Evitar para Não Sofrer: Quando o Estilo de Coping Evitante nos Isola da Vida
"Se eu não pensar nisso, talvez desapareça."
"Não me envolvo porque sei que vai acabar mal."
"Prefiro ficar na minha — é mais seguro assim."
Estas frases, tão comuns na prática clínica, ilustram um dos estilos de coping mais frequentes e, ao mesmo tempo, mais silenciosos na vida de muitas pessoas: o estilo evitante.
Na Terapia do Esquema, falamos em estilos de coping como formas que desenvolvemos para sobreviver emocionalmente a experiências precoces de dor, rejeição, abandono ou crítica. E o evitamento — seja ele comportamental ou emocional — é uma dessas formas.
Neste artigo, vou falar-lhe sobre o estilo de coping evitante: como se manifesta, porque é tão difícil de mudar e como pode estar a limitar silenciosamente a sua vida.
O que é o estilo evitante?
É um padrão emocional e comportamental em que a pessoa evita tudo aquilo que pode ativar os seus esquemas mais dolorosos: situações sociais, relações íntimas, novos desafios profissionais, ou até pensamentos e memórias difíceis.
Evitar é, no fundo, uma forma de dizer ao mundo (e a si mesmo): "Não quero sentir isto outra vez."
A evitação pode assumir muitas formas:
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Recusar convites sociais;
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Fugir de relações íntimas ou de compromisso;
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Ficar em trabalhos pouco estimulantes para não correr riscos;
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Distrair-se constantemente para não pensar em temas dolorosos;
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"Anestesiar-se" com comida, álcool, trabalho, redes sociais ou outras distrações.
Um exemplo real: a história da Clara
Clara, com quase 50 anos, foi uma excelente aluna de Direito. Estudava obsessivamente, impunha a si mesma padrões rígidos e evitava tudo o que a pudesse "distraír" do objetivo: ter as melhores notas. Conseguiu — mas a um preço alto: esgotamento emocional e abandono do curso.
Sentiu vergonha profunda e convenceu-se de que era um fracasso. A partir daí, optou por um emprego monótono, sem grandes exigências, e evitou para sempre qualquer risco profissional. Também se afastou de relações amorosas, com medo de voltar a sofrer. Viveu assim durante anos, resignada e infeliz — mas sentia que o sofrimento da solidão era preferível à dor da rejeição ou do fracasso.
Mas porquê evitamos?
O evitamento é uma estratégia de autoproteção. Quando, no passado, a dor foi demasiado intensa ou não houve apoio suficiente para lidar com ela, o nosso sistema emocional desenvolve mecanismos para "fugir" de tudo o que se assemelhe a essa dor.
Do ponto de vista da Terapia do Esquema, evitamos não porque sejamos fracos, mas porque aprendemos que sentir é perigoso.
Além disso, evitar funciona... pelo menos no curto prazo.
Quando se evita uma situação que provoca medo, vergonha ou tristeza, sente-se um alívio imediato. Esse alívio actua como um "reforço negativo" — ou seja, aumenta a probabilidade de voltarmos a evitar no futuro.
Porém, com o tempo, essa estratégia começa a cobrar o seu preço: isolamento, frustração, bloqueio emocional, insatisfação profissional ou pessoal... e um vazio persistente que não desaparece com distrações.
Evitamento emocional e cognitivo: quando até pensar dói
O evitamento não é apenas comportamental. Pode ser também emocional ou cognitivo — isto é, evitar pensar ou sentir certas emoções.
O Ira (nome fictício) raramente visitava a família. Dizia que era "depressiva" e preferia ocupar-se com festas, boa comida e atividades divertidas. No entanto, por trás dessa vida de aparente prazer, escondia um sentimento profundo de vazio. A ideia de construir uma família própria assustava-o — e acabou por afastar-se de uma relação significativa quando a parceira mencionou querer filhos.
Ira evitava tudo o que pudesse reativar os seus esquemas de Deprivação Emocional ou Rejeição — não apenas nas ações, mas também nos pensamentos. Recusava recordar, questionar ou sentir.
Distraía-se... mas sentia-se cada vez mais só.
Porque é tão difícil mudar?
O evitamento cria uma zona de conforto emocional. Mesmo quando nos deixa infelizes, dá-nos uma falsa sensação de segurança. E sair dessa zona exige coragem, apoio e, muitas vezes, acompanhamento psicoterapêutico.
O paradoxo é este: quanto mais evitamos sentir dor, mais nos distanciamos daquilo que pode dar sentido à nossa vida — o amor, a realização, a conexão, o crescimento.
Como a Terapia do Esquema pode ajudar?
Na Terapia do Esquema, começamos por compreender os esquemas e padrões de evitamento que estão a condicionar a sua vida.
Ao longo do processo terapêutico, ajudamos a:
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Identificar os esquemas que provocam dor (ex.: Falha, Rejeição, Deprivação Emocional);
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Reconhecer os comportamentos e pensamentos evitantes;
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Criar estratégias seguras e progressivas para se aproximar das suas emoções e necessidades reais;
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Fortalecer o seu "Eu Saudável", que pode cuidar de si de forma mais compassiva e corajosa.
Em resumo
O estilo de coping evitante é subtil, mas pode ter um impacto profundo. Pode afastá-lo(a) de oportunidades, relações significativas e da vida que gostaria de ter. Pode parecer que o protege — mas, na realidade, mantém-no(a) preso(a) à dor que procura evitar.
Se se revê neste padrão, saiba que não está sozinho(a) — e que existem formas eficazes e empáticas de trabalhar estas dificuldades.
Na Terapia do Esquema, caminhamos ao seu lado, com segurança, ritmo e respeito, para que possa sair do modo de sobrevivência e começar, finalmente, a viver.