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Esquema de Vulnerabilidade ao Dano/Doença

17-08-2025

O que é o esquema de vulnerabilidade?

O esquema de vulnerabilidade ao dano ou à doença caracteriza-se por uma crença profunda e persistente de que algo terrível pode acontecer a qualquer momento. Pessoas que vivem sob este padrão psicológico têm uma percepção constante de que uma catástrofe está iminente — seja um problema de saúde súbito, um desastre natural, um acidente grave, um assalto, uma perda financeira irreparável ou até um colapso emocional com medo de "enlouquecer".

O sentimento dominante é a ansiedade, que pode variar entre uma preocupação ligeira e ataques de pânico intensos. Ao contrário dos indivíduos com esquemas de dependência, que têm medo de lidar com o dia-a-dia, quem apresenta este esquema teme acontecimentos catastróficos sobre os quais sente que não terá qualquer controlo.

Como se manifesta?

Pessoas com este esquema tendem a adotar comportamentos de evitação ou hipercompensação como forma de lidar com o medo. Entre os comportamentos mais comuns estão:

  • Evitar lugares ou situações que consideram arriscados;

  • Tornar-se excessivamente vigilantes;

  • Utilizar tranquilizantes ou recorrer a "amuletos de segurança" (como andar sempre com uma garrafa de água, estar acompanhado por alguém de confiança, ou verificar repetidamente se tudo está "em ordem");

  • Envolver-se em pensamentos mágicos ou rituais compulsivos, acreditando que assim conseguem prevenir tragédias.

Estes comportamentos não eliminam o medo — apenas o reforçam, impedindo que o indivíduo confronte a sua ansiedade de forma saudável.

Objetivos do Tratamento

O principal objetivo do tratamento é reduzir a percepção exagerada de perigo e aumentar a confiança na capacidade de lidar com situações difíceis, caso estas realmente aconteçam. Não se pretende negar que situações adversas possam ocorrer, mas sim ajudar o paciente a compreender que:

  • A probabilidade de uma catástrofe acontecer é muito menor do que parece;

  • Mesmo que algo corra mal, é possível lidar com isso com recursos internos adequados.

A terapia tem como finalidade última levar o paciente a deixar de evitar ou hipercompensar os seus medos e a encarar, de forma progressiva e segura, as situações que teme (sem, naturalmente, incentivar comportamentos de risco real, como conduzir numa tempestade ou nadar em mar aberto longe da costa).

Estratégias de Intervenção


Trabalho de Motivação e Consciência

Inicialmente, é importante que o paciente compreenda:

  • Como o esquema se desenvolveu na sua história de vida;

  • De que forma afeta negativamente o seu bem-estar e liberdade;

  • O que está a perder ao viver num "estilo de vida fóbico", como oportunidades de lazer, crescimento pessoal ou desenvolvimento profissional.

Trabalha-se também o conceito do "modo adulto saudável", que representa a parte da pessoa que deseja avançar, crescer e enfrentar os desafios da vida de forma realista. Este modo é estimulado a assumir o controlo, conduzindo a "criança assustada interior" por caminhos mais seguros e funcionais.

Sem esta motivação clara, torna-se difícil que o paciente esteja disposto a suportar a ansiedade necessária para abrir mão dos seus mecanismos de defesa desadaptativos.

Estratégias Cognitivas

O trabalho cognitivo foca-se em:

  • Desafiar os pensamentos catastróficos ("descatastrofizar");

  • Reduzir as estimativas irrealistas de que algo horrível está prestes a acontecer;

  • Aumentar a perceção de que é possível lidar com situações adversas, se e quando elas ocorrerem.

Estas estratégias ajudam o paciente a ter uma visão mais equilibrada do risco e a sentir-se mais confiante nas suas próprias capacidades. Também são úteis para gerar motivação para a mudança, ao destacar os benefícios de viver com mais liberdade e menos medo.

Intervenções Comportamentais

O objetivo aqui é romper com os padrões de evitamento. O paciente é encorajado a:

  • Desistir de rituais de segurança e sinais mágicos;

  • Enfrentar gradualmente situações temidas, com apoio e preparação.

Este processo é feito através de exposição gradual, muitas vezes com tarefas para realizar entre sessões. Para preparar estas exposições, o paciente pode ensaiar mentalmente as situações fóbicas, visualizando-se a lidar com elas de forma segura e eficaz, com o apoio do seu "adulto saudável interior".

Técnicas de regulação emocional, como exercícios de respiração, meditação, cartões-lembrete ou afirmações racionais, também são utilizadas para ajudar a tolerar e gerir a ansiedade durante o processo.

Trabalho Vivencial e com Modos

As técnicas vivenciais, especialmente o uso de imagens mentais, têm um papel importante. Se o esquema surgiu a partir da interiorização de figuras parentais ansiosas, controladoras ou catastrofistas, o paciente pode:

  • Reencenar mentalmente situações da infância;

  • Realizar diálogos internos com essas figuras (por exemplo, com o pai ou mãe);

  • Assumir, dentro da imagem, o papel de adulto que conforta e protege a criança interior assustada.

Estas visualizações ajudam a desconstruir crenças enraizadas e a desenvolver um diálogo interno mais saudável e seguro.

A Relação Terapêutica

Embora a relação com o terapeuta não seja o foco principal neste tipo de esquema, desempenha um papel importante como modelo de segurança e confronto empático.

O terapeuta:

  • Confronta com empatia os comportamentos de evitação e hipercompensação;

  • Mantém uma presença serena e encorajadora;

  • Modela formas realistas e não-fóbicas de lidar com situações que envolvem algum risco, mas que fazem parte da vida normal.

Considerações Finais

O esquema de vulnerabilidade ao dano ou à doença pode restringir severamente a vida de uma pessoa, limitando escolhas, liberdade e bem-estar. No entanto, com acompanhamento psicoterapêutico adequado, é possível reconstruir uma relação mais realista com o medo, recuperar a sensação de segurança interna e desenvolver a confiança na própria capacidade de enfrentar a vida.

Se sente que este padrão faz parte da sua vida ou da vida de alguém próximo, saiba que não está sozinho/a. A mudança é possível — e começa com o primeiro passo: reconhecer que viver em constante medo não é inevitável.

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