2ª a 6ª feira, excepto feriados.

Esquema de Subjugação

18-08-2025

Quando o medo da rejeição leva à supressão de si mesmo.


O que é o esquema de subjugação?

O esquema de subjugação caracteriza-se por um padrão em que a pessoa permite que outras controlem os seus comportamentos, escolhas ou emoções, por medo de consequências negativas, como rejeição, críticas ou abandono. A pessoa rende-se às vontades dos outros, ignorando as suas próprias necessidades e sentimentos, sentindo-se coagida ou ameaçada, mesmo que subtilmente.

Este esquema manifesta-se de duas formas principais:

  • Subjugação das necessidades: A pessoa anula os seus próprios desejos para satisfazer os pedidos ou expectativas dos outros.

  • Subjugação das emoções: A pessoa suprime o que sente — sobretudo raiva — por receio de retaliações ou conflitos.

Com o tempo, essa supressão leva frequentemente à acumulação de raiva, que pode explodir sob a forma de:

  • Comportamento passivo-agressivo;

  • Crises de raiva;

  • Sintomas psicossomáticos;

  • Abuso de substâncias;

  • Isolamento emocional.

Como este esquema se manifesta?

As pessoas com este esquema tendem a assumir um estilo de enfrentamento resignado. Tornam-se demasiado obedientes, sentem-se presas, controladas ou impotentes. Vêm os outros — especialmente figuras de autoridade — como mais fortes, e acreditam que não têm outra escolha senão submeter-se.

Por trás desta postura, há medo: se expressarem o que realmente sentem ou precisam, temem ser punidas, rejeitadas ou abandonadas. Esta submissão não parte de um desejo genuíno de ajudar, mas sim de um instinto de autoproteção.

É importante diferenciar este esquema de outros, como:

  • Autossacrifício;

  • Inibição emocional;

  • Padrões exigentes/inflexíveis.

Nestes, a pessoa age a partir de valores internalizados (por exemplo, sentir que deve sempre colocar os outros em primeiro lugar), mantendo um controlo interno. Já na subjugação, o controlo é externo — a pessoa sente que tem de se submeter aos outros para evitar punições.

Comportamentos típicos associados

  • Evitam confrontos por medo de consequências negativas;

  • Escolhem parceiros dominadores;

  • Sentem-se sufocadas em relações íntimas (evitando compromisso);

  • Têm dificuldade em reconhecer ou expressar raiva;

  • Oscilam entre submissão extrema e explosões de oposição/rebeldia;

  • Desenvolvem um sentido de identidade pouco definido, centrado nos desejos alheios.

Objectivos do tratamento

O principal objectivo é ajudar o paciente a reconhecer que tem direito a expressar necessidades e emoções, de forma adequada e saudável, sem medo da retaliação.

Ao longo do tratamento, os pacientes aprendem que:

  • Expressar-se não é "ser egoísta", "fraco" ou "desrespeitador";

  • Pessoas saudáveis não punem nem rejeitam alguém por ser autêntico;

  • Quem reage negativamente à expressão emocional saudável pode não ser uma presença positiva na vida do paciente.

Estratégias de intervenção terapêutica

São usadas abordagens cognitivas, comportamentais, vivenciais e focadas na relação terapêutica.

1. Estratégias cognitivas

Ajudam o paciente a desafiar as suas expectativas negativas sobre o que acontecerá se expressar o que sente. Muitos acreditam que serão sempre rejeitados ou punidos — o que raramente se confirma.

O paciente aprende que:

  • A sua forma de agir foi condicionada por experiências passadas (ex: pais que o puniam por "falar demais");

  • Expressar-se de forma assertiva é sinal de saúde emocional;

  • As suas necessidades são tão válidas como as dos outros.

2. Estratégias vivenciais

Usando técnicas de imaginação guiada e dramatizações, o paciente é encorajado a expressar raiva e afirmar os seus direitos perante figuras internas controladoras (frequentemente baseadas nos pais ou outros cuidadores).

Este trabalho é fundamental para:

  • Libertar raiva acumulada;

  • Recuperar a sensação de força pessoal;

  • Reforçar a capacidade de resistir à submissão no presente.

Quanto mais o paciente pratica a expressão emocional em contexto terapêutico, mais capaz se torna de fazê-lo na vida real.

3. Estratégias comportamentais

São trabalhadas escolhas de relacionamento mais saudáveis. Pessoas com este esquema tendem a sentir "química" com parceiros controladores — porque isso reproduz a dinâmica conhecida.

Idealmente, o paciente aprende a:

  • Procurar parceiros e amigos que respeitem o seu espaço emocional;

  • Praticar assertividade — comunicar de forma clara, directa e respeitosa;

  • Estabelecer e manter limites, mesmo com pessoas próximas.

4. Trabalho de individuação

Quando o esquema é muito profundo, o paciente pode ter um "eu pouco desenvolvido" — não sabe o que quer, do que gosta ou quem é, fora do que os outros lhe disseram para ser.

A terapia ajuda a:

  • Descobrir preferências e desejos autênticos;

  • Praticar a acção a partir do seu próprio centro;

  • Explorar situações do passado em que se anulou e reescrevê-las (mentalmente ou em dramatização), expressando o que precisava na altura.

5. A relação terapêutica

Muitos pacientes com subjugação vêem inicialmente o terapeuta como uma nova figura de autoridade — alguém que os quer controlar. Por isso, o terapeuta deve ser pouco directivo, dando ao paciente espaço para escolher temas, técnicas e ritmo.

No entanto, também é importante:

  • Sinalizar, com empatia, comportamentos submissos que surjam na relação terapêutica;

  • Incentivar a expressão de raiva — inclusive em relação ao terapeuta — antes que ela atinja um ponto de ruptura;

  • Promover a confiança numa relação segura, sem punição.

Conclusão

O esquema de subjugação é muitas vezes invisível à própria pessoa. Pode parecer "altruísmo" ou "bondade", mas esconde medo, dor reprimida e autoanulação. Com o tempo, esta postura leva a frustração, baixa autoestima e relações desequilibradas.

A psicoterapia oferece um espaço para reencontrar a própria voz — sem culpa, sem medo e com respeito por si e pelos outros.

Aprender a dizer "não" e a afirmar-se não é um acto de egoísmo, mas de saúde emocional. É o primeiro passo para relações mais autênticas, equilibradas e libertadoras.

Crie o seu site grátis!