Esquema de Subjugação
Quando o medo da rejeição leva à supressão de si mesmo.
O que é o esquema de subjugação?
O esquema de subjugação caracteriza-se por um padrão em que a pessoa permite que outras controlem os seus comportamentos, escolhas ou emoções, por medo de consequências negativas, como rejeição, críticas ou abandono. A pessoa rende-se às vontades dos outros, ignorando as suas próprias necessidades e sentimentos, sentindo-se coagida ou ameaçada, mesmo que subtilmente.
Este esquema manifesta-se de duas formas principais:
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Subjugação das necessidades: A pessoa anula os seus próprios desejos para satisfazer os pedidos ou expectativas dos outros.
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Subjugação das emoções: A pessoa suprime o que sente — sobretudo raiva — por receio de retaliações ou conflitos.
Com o tempo, essa supressão leva frequentemente à acumulação de raiva, que pode explodir sob a forma de:
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Comportamento passivo-agressivo;
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Crises de raiva;
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Sintomas psicossomáticos;
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Abuso de substâncias;
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Isolamento emocional.
Como este esquema se manifesta?
As pessoas com este esquema tendem a assumir um estilo de enfrentamento resignado. Tornam-se demasiado obedientes, sentem-se presas, controladas ou impotentes. Vêm os outros — especialmente figuras de autoridade — como mais fortes, e acreditam que não têm outra escolha senão submeter-se.
Por trás desta postura, há medo: se expressarem o que realmente sentem ou precisam, temem ser punidas, rejeitadas ou abandonadas. Esta submissão não parte de um desejo genuíno de ajudar, mas sim de um instinto de autoproteção.
É importante diferenciar este esquema de outros, como:
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Autossacrifício;
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Inibição emocional;
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Padrões exigentes/inflexíveis.
Nestes, a pessoa age a partir de valores internalizados (por exemplo, sentir que deve sempre colocar os outros em primeiro lugar), mantendo um controlo interno. Já na subjugação, o controlo é externo — a pessoa sente que tem de se submeter aos outros para evitar punições.
Comportamentos típicos associados
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Evitam confrontos por medo de consequências negativas;
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Escolhem parceiros dominadores;
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Sentem-se sufocadas em relações íntimas (evitando compromisso);
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Têm dificuldade em reconhecer ou expressar raiva;
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Oscilam entre submissão extrema e explosões de oposição/rebeldia;
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Desenvolvem um sentido de identidade pouco definido, centrado nos desejos alheios.
Objectivos do tratamento
O principal objectivo é ajudar o paciente a reconhecer que tem direito a expressar necessidades e emoções, de forma adequada e saudável, sem medo da retaliação.
Ao longo do tratamento, os pacientes aprendem que:
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Expressar-se não é "ser egoísta", "fraco" ou "desrespeitador";
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Pessoas saudáveis não punem nem rejeitam alguém por ser autêntico;
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Quem reage negativamente à expressão emocional saudável pode não ser uma presença positiva na vida do paciente.
Estratégias de intervenção terapêutica
São usadas abordagens cognitivas, comportamentais, vivenciais e focadas na relação terapêutica.
1. Estratégias cognitivas
Ajudam o paciente a desafiar as suas expectativas negativas sobre o que acontecerá se expressar o que sente. Muitos acreditam que serão sempre rejeitados ou punidos — o que raramente se confirma.
O paciente aprende que:
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A sua forma de agir foi condicionada por experiências passadas (ex: pais que o puniam por "falar demais");
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Expressar-se de forma assertiva é sinal de saúde emocional;
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As suas necessidades são tão válidas como as dos outros.
2. Estratégias vivenciais
Usando técnicas de imaginação guiada e dramatizações, o paciente é encorajado a expressar raiva e afirmar os seus direitos perante figuras internas controladoras (frequentemente baseadas nos pais ou outros cuidadores).
Este trabalho é fundamental para:
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Libertar raiva acumulada;
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Recuperar a sensação de força pessoal;
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Reforçar a capacidade de resistir à submissão no presente.
Quanto mais o paciente pratica a expressão emocional em contexto terapêutico, mais capaz se torna de fazê-lo na vida real.
3. Estratégias comportamentais
São trabalhadas escolhas de relacionamento mais saudáveis. Pessoas com este esquema tendem a sentir "química" com parceiros controladores — porque isso reproduz a dinâmica conhecida.
Idealmente, o paciente aprende a:
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Procurar parceiros e amigos que respeitem o seu espaço emocional;
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Praticar assertividade — comunicar de forma clara, directa e respeitosa;
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Estabelecer e manter limites, mesmo com pessoas próximas.
4. Trabalho de individuação
Quando o esquema é muito profundo, o paciente pode ter um "eu pouco desenvolvido" — não sabe o que quer, do que gosta ou quem é, fora do que os outros lhe disseram para ser.
A terapia ajuda a:
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Descobrir preferências e desejos autênticos;
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Praticar a acção a partir do seu próprio centro;
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Explorar situações do passado em que se anulou e reescrevê-las (mentalmente ou em dramatização), expressando o que precisava na altura.
5. A relação terapêutica
Muitos pacientes com subjugação vêem inicialmente o terapeuta como uma nova figura de autoridade — alguém que os quer controlar. Por isso, o terapeuta deve ser pouco directivo, dando ao paciente espaço para escolher temas, técnicas e ritmo.
No entanto, também é importante:
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Sinalizar, com empatia, comportamentos submissos que surjam na relação terapêutica;
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Incentivar a expressão de raiva — inclusive em relação ao terapeuta — antes que ela atinja um ponto de ruptura;
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Promover a confiança numa relação segura, sem punição.
Conclusão
O esquema de subjugação é muitas vezes invisível à própria pessoa. Pode parecer "altruísmo" ou "bondade", mas esconde medo, dor reprimida e autoanulação. Com o tempo, esta postura leva a frustração, baixa autoestima e relações desequilibradas.
A psicoterapia oferece um espaço para reencontrar a própria voz — sem culpa, sem medo e com respeito por si e pelos outros.
Aprender a dizer "não" e a afirmar-se não é um acto de egoísmo, mas de saúde emocional. É o primeiro passo para relações mais autênticas, equilibradas e libertadoras.