Esquema de Privação Emocional
Apresentação típica do esquema
Este é, provavelmente, o esquema mais comum com que trabalhamos na nossa prática clínica, embora os pacientes muitas vezes não o reconheçam. Os pacientes com este esquema chegam frequentemente à terapia a sentir-se solitários, amargurados e deprimidos, mas, em geral, desconhecem a razão, ou apresentam sintomas vagos e pouco claros que depois se revelam ligados ao esquema de privação emocional.
Estes pacientes não esperam que outras pessoas, incluindo o terapeuta, cuidem deles, compreendam-nos ou protejam-nos. Sentem-se privados de emoções e acreditam que não receberam afeto, carinho, atenção suficiente ou expressões emocionais profundas. Podem pensar que não existe ninguém que lhes dê força e orientação. Sentem-se incompreendidos, isolados no mundo, privados de amor, invisíveis ou vazios.
Existem três tipos de privação:
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Privação de carinho, em que os pacientes sentem que ninguém está disposto a abraçá-los, a prestar-lhes atenção ou a oferecer afeto físico, como tocar e abraçar;
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Privação de empatia, em que acreditam que ninguém está realmente disposto a ouvi-los ou a tentar compreender quem são e como se sentem;
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Privação de proteção, em que sentem que ninguém se dispõe a protegê-los e a guiá-los (mesmo que muitas vezes sejam eles próprios a proteger e a orientar os outros).
O esquema de privação emocional está frequentemente associado ao esquema de auto-sacrifício. A maioria dos pacientes que apresenta o esquema de auto-sacrifício também sofre de privação emocional.
Os comportamentos típicos destes pacientes incluem não pedir às pessoas próximas aquilo de que necessitam emocionalmente, não expressar o desejo de amor e conforto, concentrar-se em fazer perguntas aos outros, mas falar pouco sobre si próprios, agir como se tivessem mais força do que realmente sentem e reforçar a privação de outras formas, comportando-se como se não tivessem necessidades emocionais. Como não esperam apoio emocional, não o solicitam e, por isso, normalmente não o recebem.
Outra tendência comum nestes pacientes é escolher pessoas que não conseguem, ou não querem, envolver-se emocionalmente – frias, distantes, egocêntricas ou carentes – que, por isso, provavelmente os privarão emocionalmente. Outros, mais evitativos, tornam-se solitários em relações íntimas porque não esperam receber nada delas. Mantêm relações muito distantes ou evitam-nas completamente.
Os pacientes que tentam compensar excessivamente a privação emocional tendem a ser demasiado exigentes e irritam-se quando as suas necessidades não são satisfeitas. Por vezes, apresentam traços narcisistas e, por terem sido tratados com indulgência e simultaneamente privados durante a infância, desenvolveram uma forte convicção de que merecem ver as suas necessidades atendidas. Acreditam que têm de ser inflexíveis nas suas exigências para receber algo em troca.
Uma minoria destes pacientes foi mimada materialmente na infância, sem ter de cumprir regras de comportamento, ou adorada por algum talento, mas sem receber amor verdadeiro.
Em alguns casos, uma pequena percentagem apresenta-se exageradamente carente, expressando tantas necessidades e com tanta intensidade que acabam por se tornar excessivamente apegados ou desamparados, por vezes histriónicos. Têm muitas queixas físicas (sintomas psicossomáticos), geralmente para receberem atenção e cuidados, embora não tenham consciência disso.
Objetivos do tratamento
Um objetivo importante do tratamento é ajudar os pacientes a tomar consciência das suas necessidades emocionais. Pode parecer-lhes tão natural que essas necessidades não sejam satisfeitas que nem se apercebem de que algo está errado.
Pretende-se também auxiliá-los a aceitar que essas necessidades são naturais e legítimas. Todas as crianças precisam de carinho, empatia e proteção e, como adultos, continuamos a necessitar disso.
Se os pacientes aprenderem a escolher as pessoas certas e a pedir o que precisam de forma adequada, poderão obter apoio emocional. Não se trata de os outros os privarem necessariamente, mas sim de os pacientes aprenderem comportamentos que os levam a escolher pessoas incapazes de satisfazer essas necessidades.
Principais estratégias do tratamento
É dada grande importância à investigação das origens emocionais deste esquema. O terapeuta utiliza trabalho vivencial para ajudar os pacientes a reconhecer que as suas necessidades emocionais não foram satisfeitas na infância. Muitos nunca perceberam que algo lhes faltava, mesmo apresentando sintomas dessa carência.
Por meio de trabalho com imagens mentais, os pacientes contactam o seu "eu criança solitária" e associam esse modo de ser aos seus problemas atuais. Expressam, nessas imagens, a raiva e a dor que sentem em relação aos pais ou outros que os privaram, listam todas as necessidades emocionais não satisfeitas na infância e o que gostariam que os pais tivessem feito para as colmatar.
O terapeuta participa nestas imagens como o adulto saudável, que conforta e ajuda a criança solitária; depois o paciente assume o papel do adulto saudável que apoia essa criança.
Como tarefa para casa, os pacientes escrevem uma carta ao pai ou à mãe ou a outros (que não é enviada) sobre a privação emocional revelada através deste trabalho de imagens.
Tal como na maioria dos esquemas do domínio da desconexão e rejeição, a relação terapêutica é fundamental neste tratamento. Esta relação constitui muitas vezes o primeiro espaço em que os pacientes se permitem ser cuidados, compreendidos e orientados.
Por meio da "reparação parental limitada", o terapeuta oferece um antídoto parcial à privação emocional: um ambiente acolhedor, empático e protetor onde várias das necessidades emocionais podem ser satisfeitas.
Quando o terapeuta demonstra preocupação e realiza esta reparação parental, a sensação de privação diminui, como acontece no esquema de abandono.
A relação terapêutica oferece um modelo que o paciente pode transferir para outras relações fora da terapia, uma verdadeira "experiência emocional corretiva".
Assim como no esquema de abandono, dá-se grande ênfase aos relacionamentos íntimos do paciente. Terapeuta e paciente analisam cuidadosamente os relacionamentos atuais com pessoas importantes, trabalhando a escolha de parceiros e amigos íntimos adequados, ajudando o paciente a identificar e a pedir que as suas necessidades emocionais sejam satisfeitas.
Abordagem cognitiva e comportamental
No plano cognitivo, o terapeuta ajuda o paciente a contrariar a sensação exagerada de que as pessoas próximas agem de forma egoísta ou os privam intencionalmente. Para combater o pensamento "a preto e branco", que alimenta reações exageradas, o paciente aprende a distinguir diferentes graus de privação, a perceber um continuum em vez de extremos opostos.
Embora as outras pessoas possam estabelecer limites ao que dão, continuam a preocupar-se com o paciente.
O paciente identifica as necessidades emocionais não satisfeitas nas suas relações atuais.
No plano comportamental, aprende a escolher parceiros amorosos e amigos afetuosos, a pedir que satisfaçam as suas necessidades emocionais de forma adequada e a aceitar o carinho de pessoas que lhe são queridas.
Deixa de evitar a intimidade, de reagir com raiva excessiva a pequenas formas de privação e de se retraír ou isolar quando se sente negligenciado.
Na relação terapêutica
O terapeuta cria um ambiente acolhedor, com atenção, empatia e orientação.
Ajuda o paciente a expressar sentimentos de privação sem reagir de forma exagerada ou permanecer em silêncio. O paciente aprende a aceitar as limitações do terapeuta e a tolerar alguma privação, ao mesmo tempo que reconhece o carinho e o cuidado oferecidos.