Esquema de Negativismo/Pessimismo
Quando Tudo Parece Correr Mal.
Viver constantemente à espera de que algo de mal aconteça. Ver o copo meio vazio, mesmo quando a vida oferece sinais positivos. Sentir-se sempre em tensão, antecipar falhanços, evitar riscos — e, muitas vezes, passar mais tempo preocupado do que, de facto, a viver.
Este é o retrato típico do esquema de negativismo/pessimismo, um padrão psicológico profundo que afecta muitas pessoas e que pode limitar significativamente o bem-estar emocional, a tomada de decisões e a qualidade das relações interpessoais.
O que é o esquema de negativismo/pessimismo?
Este esquema caracteriza-se por uma visão cronicamente negativa da vida. As pessoas que o desenvolvem tendem a focar-se de forma excessiva e duradoura nos aspectos negativos da experiência humana — sofrimento, perdas, traições, fracassos, desilusões, conflitos — minimizando ou desvalorizando os aspectos positivos e as possibilidades de sucesso.
Este padrão pode manifestar-se em diversas áreas: na vida profissional, nas finanças, nas relações e até na forma como a pessoa pensa sobre si própria e o futuro. As preocupações são constantes, o medo de cometer erros é paralisante, e a indecisão torna-se frequente. Em muitos casos, é difícil conviver com alguém que está sempre à espera do pior — o optimismo e a leveza podem parecer até ofensivos.
De onde vem esta forma de ver o mundo?
A origem do esquema pode ser diversa. Em muitos casos, a negatividade foi aprendida na infância, por modelagem de uma figura parental pessimista e ansiosa. A criança, ao crescer com pais que constantemente antecipavam problemas ou se mostravam excessivamente preocupados, interiorizou essa visão como uma forma natural de estar no mundo.
Noutras situações, este esquema desenvolve-se como resposta a experiências de perda ou adversidade precoce. Crianças que passaram por morte de familiares, abandono, pobreza, doenças graves ou outros acontecimentos traumáticos podem perder o optimismo natural e adoptar uma visão mais cínica e defensiva da realidade.
Há ainda casos em que o pessimismo se associa a esquemas de privação emocional: aqui, o foco no negativo pode funcionar como uma forma (inconsciente) de obter atenção e carinho — "se me queixar, as pessoas cuidam de mim". E, nalguns pacientes, pode existir uma base biológica ligada a condições como a distimia ou o transtorno obsessivo-compulsivo, sendo, nesses casos, importante avaliar a possibilidade de intervenção farmacológica.
Sinais de que este esquema está presente
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Foco excessivo nas preocupações;
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Dificuldade em reconhecer aspectos positivos da vida;
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Tendência a prever que "vai correr mal";
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Medo de falhar, humilhar-se ou perder o controlo;
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Queixas frequentes e dificuldade em aceitar ajuda;
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Relações marcadas por tensão, preocupação e controlo;
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Necessidade constante de "prevenir o pior";
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Sensação persistente de ansiedade e mal-estar.
Objectivos do tratamento
O principal objectivo terapêutico é ajudar o paciente a desenvolver uma visão mais realista e equilibrada da vida, aprendendo a distinguir o que é um risco real do que é uma antecipação catastrofista sem base factual.
Não se pretende transformar o paciente num optimista irrealista, mas sim afastar o pensamento extremo negativo e permitir um funcionamento emocional mais saudável, flexível e conectado às próprias necessidades e desejos.
Como é feito o tratamento?
O trabalho terapêutico envolve várias dimensões: cognitivas, comportamentais, emocionais e relacionais.
1. Estratégias cognitivas
Estas ajudam o paciente a:
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Identificar e desafiar pensamentos automáticos negativos;
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Analisar evidências reais que apoiam (ou não) as previsões pessimistas;
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Desenvolver alternativas mais equilibradas e construtivas;
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Avaliar os efeitos do pensamento negativo no seu estado emocional;
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Compreender que, esperar pelo pior, não evita sofrimento — e pode, inclusive, agravá-lo.
É comum trabalhar com diálogos internos entre a parte pessimista e a parte mais optimista e saudável, de forma a criar espaço interno para novas interpretações.
2. Estratégias vivenciais
Usa-se o recurso à imaginação guiada e dramatizações para:
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Conectar o paciente com a criança interior que foi condicionada a ver o mundo como um lugar perigoso;
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Reviver situações passadas com figuras parentais negativas, confrontando-as simbolicamente e promovendo um reenquadramento emocional;
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Trabalhar o luto por perdas passadas, permitindo que essas experiências deixem de aprisionar o presente.
3. Estratégias comportamentais
Aqui, propõem-se mudanças concretas na vida do paciente:
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Agendar e aumentar actividades prazerosas;
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Reduzir comportamentos de controlo e supervigilância (por exemplo, evitar verificações excessivas ou rituais de prevenção);
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Estabelecer "tempo para se preocupar", de modo a limitar a ruminação;
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Realizar experiências que testem as crenças pessimistas na prática;
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Aprender a pedir afecto e atenção de forma directa e saudável — em vez de usar a queixa como ferramenta emocional.
4. A relação terapêutica
A relação com o terapeuta é central. O psicólogo oferece acolhimento, validação e cuidado emocional, sobretudo para pacientes cuja negatividade esconde uma profunda privação afectiva.
Contudo, é fundamental manter um equilíbrio delicado: validar o sofrimento sem alimentar o ciclo de queixas. O terapeuta oferece uma "reparação parental limitada", ajudando o paciente a sentir-se compreendido nas dores do passado, mas também encorajando-o a construir um futuro mais leve, possível e, acima de tudo, seu.
Em resumo
Viver sob o domínio do esquema de negatividade/pessimismo é como caminhar sob um céu constantemente nublado, mesmo quando há sol. A terapia permite questionar essa lente escura e, pouco a pouco, abrir espaço para o brilho, para a esperança — e para a vida real, com todas as suas imperfeições e possibilidades.
Se se identifica com este padrão ou conhece alguém que possa estar a viver sob este peso emocional, saiba que é possível aprender uma nova forma de estar no mundo — mais confiante, equilibrada e em sintonia com quem realmente é.