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Esquema de Isolamento Social/Alienação

17-08-2025

Sentir-se diferente, excluído e desconectado dos outros


O que é o esquema de isolamento social?

O esquema de isolamento social/alienação caracteriza-se pela crença persistente de que se é diferente das outras pessoas, de que não se pertence verdadeiramente a nenhum grupo e de que se está à parte, como um observador externo da vida social. A pessoa sente-se excluída, alienada ou como se fosse "de outro mundo".

Este esquema pode desenvolver-se em qualquer pessoa que tenha crescido a sentir-se diferente dos que a rodeavam. São exemplos comuns:

  • Pessoas com altas capacidades (superdotadas);

  • Indivíduos muito bonitos ou considerados pouco atraentes;

  • Pessoas LGBTQIA+;

  • Membros de minorias étnicas, culturais ou religiosas;

  • Filhos de pessoas com dependências;

  • Sobreviventes de traumas ou abusos;

  • Pessoas com deficiências físicas;

  • Crianças adotadas ou órfãs;

  • Indivíduos que pertencem a uma classe social muito distinta da maioria ao seu redor.

Comportamentos típicos

Quem vive com este esquema tende a evitar grupos ou a manter-se na periferia dos contextos sociais. Preferem atividades solitárias e, muitas vezes, vivem num isolamento emocional profundo, mesmo que por fora pareçam socialmente integradas.

Dependendo da gravidade do esquema, a pessoa pode:

  • Integrar-se numa subcultura específica, mas continuar a sentir-se alienada do mundo em geral;

  • Ter alguns relacionamentos íntimos, mas sentir-se desconectada dos grupos;

  • Estar quase totalmente isolada, sem relações próximas ou pertença social.

Objetivos do tratamento

O principal objetivo terapêutico é ajudar a pessoa a sentir-se menos diferente, mais conectada com os outros e a perceber que não está sozinha. Mesmo que não pertença a grupos predominantes, há sempre outros indivíduos com experiências e vivências semelhantes.

É essencial reforçar a ideia de que, na sua essência, todos os seres humanos partilham necessidades e desejos básicos. Embora cada um tenha as suas particularidades, temos mais em comum do que julgamos.

Por vezes, é necessário que o paciente se afaste de grupos que o rejeitam e procure ambientes onde seja aceite e compreendido. Isso pode implicar mudanças significativas de vida e a superação de uma forte tendência de evitação social.

Estratégias principais no tratamento


Foco na atualidade e não apenas no passado

Ao contrário de outros esquemas do domínio da desconexão e rejeição, no isolamento social o foco não está tanto na exploração emocional da infância, mas sim na melhoria das relações sociais atuais.

As estratégias cognitivas e comportamentais ganham aqui especial destaque. A terapia de grupo pode ser extremamente útil, sobretudo para quem evita até mesmo criar amizades.

Quanto mais isolada estiver a pessoa, mais importante será a relação terapêutica, que pode tornar-se num dos poucos vínculos significativos na sua vida.

Trabalho cognitivo: alterar a forma como se vê a si e aos outros

Através de técnicas cognitivas, a pessoa começa a questionar a crença de que é "diferente demais" ou "incapaz de pertencer". Aprende a reconhecer:

  • Que muitas das características que acredita serem únicas são, na verdade, universais (ex.: fantasias, inseguranças, medos);

  • Que, apesar das diferenças, existem subgrupos e comunidades onde será aceite;

  • Que muitas vezes é o pensamento automático negativo que impede a aproximação a outras pessoas.

É também incentivada a focar nas semelhanças com os outros, e não apenas nas diferenças.

Trabalho emocional: lidar com feridas do passado

Algumas pessoas com este esquema foram de facto rejeitadas ou excluídas em criança ou na adolescência. Outras, optaram por se isolar, por preferência ou por sentirem-se incompreendidas.

Através de exercícios vivenciais (como imagens mentais), o paciente revisita essas experiências dolorosas, liberta emoções reprimidas (raiva, tristeza, solidão) e confronta as memórias de exclusão.

Este trabalho também ajuda a desenvolver autoaceitação e a combater o preconceito internalizado contra quem é "diferente".

Trabalho comportamental: sair da zona de conforto social

O objetivo é ajudar a pessoa a superar gradualmente a evitação social e a construir novas experiências de pertença. Isso envolve:

  • Exposição progressiva a situações sociais;

  • Tarefas práticas entre sessões (como participar num grupo, convidar alguém para conversar, experimentar uma nova atividade social);

  • Treino de habilidades sociais, se necessário;

  • Aprendizagem de técnicas de gestão da ansiedade social;

  • Em alguns casos, medicação pode ser considerada como suporte.

Importância da relação terapêutica

A relação com o terapeuta pode ser, para muitas pessoas com este esquema, o primeiro vínculo seguro e estável. No entanto, é importante lembrar que a relação terapêutica, por si só, não basta — é crucial que o paciente também se desafie fora do consultório, enfrentando medos e construindo novas conexões sociais.

Alguns pacientes conseguem criar uma boa ligação com o terapeuta, mas continuam a sentir-se desconectados de todos os outros. Nesses casos, a terapia de grupo pode ser extremamente benéfica, desde que o ambiente seja acolhedor e respeitador.

Grupos de interesses específicos ou experiências partilhadas (ex.: filhos de alcoólicos, sobreviventes de abuso, pessoas LGBTQIA+, grupos de apoio ao excesso de peso, etc.) podem ser especialmente eficazes para promover sentimento de pertença.

Conclusão

O esquema de isolamento social é profundamente doloroso porque está ligado a uma sensação de não-pertença, que pode acompanhar a pessoa durante grande parte da vida.

Com apoio terapêutico, é possível construir novas narrativas internas, descobrir que há espaço onde se é bem-vindo e encontrar relacionamentos significativos. A solidão emocional não tem de ser permanente — é possível reconectar-se, passo a passo, com os outros e consigo mesmo.

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