Esquema de Grandiosidade/Arrogo
Quando o Sentimento de Superioridade Prejudica os Relacionamentos
Como se apresenta o Esquema de Grandiosidade/Arrogo?
Pessoas com o esquema de arrogo ou grandiosidade tendem a sentir-se especiais, superiores e acima dos demais. Consideram-se membros de uma espécie de "elite" e acreditam que têm direito a privilégios que os outros não têm. Não se veem sujeitas às regras normais de reciprocidade e respeito que regem as interações humanas saudáveis.
Geralmente, tentam controlar os outros para satisfazer as suas próprias necessidades, sem empatia ou preocupação com o impacto que isso possa ter. São frequentemente egocêntricos e exibem comportamentos dominadores, como:
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Excesso de competitividade;
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Esnobismo;
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Afastamento emocional;
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Imposição de opiniões;
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Atitudes arrogantes e insensíveis;
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Necessidade de afirmação de poder.
Estes indivíduos insistem em dizer, fazer ou obter o que querem – mesmo que isso prejudique os outros.
Tipos de Arrogância: Pura, Frágil e Dependente
Existem três formas principais deste esquema:
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Arrogância Pura: Pessoas que foram excessivamente mimadas ou protegidas na infância e que cresceram sem limites adequados. Não desenvolveram empatia, nem compreensão da importância de respeitar os direitos alheios. O tratamento centra-se no estabelecimento de limites.
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Arrogância Frágil (Narcisismo Compensatório): Nestes casos, a arrogância surge como uma defesa contra sentimentos profundos de defeito e carência emocional. Estas pessoas parecem confiantes, mas interiormente sentem-se vazias ou insuficientes. O tratamento aqui foca-se nos esquemas de defectividade e privação emocional.
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Arrogância Dependente: Um misto entre os esquemas de dependência e arrogância. O paciente acredita que os outros têm a obrigação de cuidar dele e atender às suas necessidades básicas (como alimentação, abrigo ou segurança), ficando frustrado ou revoltado quando isso não acontece. O terapeuta trabalha ambos os esquemas em simultâneo.
Objectivo do Tratamento
O objectivo principal é ajudar o paciente a internalizar o princípio da reciprocidade nas relações humanas. Ou seja:
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Todas as pessoas têm valor igual, independentemente de estatuto, capacidades ou sucesso;
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Ninguém tem direito a tratamento especial;
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As interações devem basear-se no respeito mútuo, empatia e limites saudáveis.
Recupera-se aqui o princípio esquecido por alguns: que viver em sociedade implica dar e receber com equilíbrio – e que ninguém é "mais" do que os outros.
Estratégias Terapêuticas
1. Trabalhar a Motivação para a Mudança
Muitos pacientes com este esquema não procuram terapia por iniciativa própria. Frequentemente chegam ao consultório após:
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Um divórcio;
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A perda de um emprego;
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Conflitos familiares ou com amigos;
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Sentimentos de solidão ou vazio.
O terapeuta utiliza essas perdas e consequências negativas como ponto de partida para motivar a mudança, explicando de forma clara:
"Se não estiver disposto a abdicar do seu comportamento arrogante, as pessoas continuarão a afastar-se e a retaliar, e o sofrimento continuará."
Este reforço é constante e essencial para manter o paciente na terapia e envolvido no processo.
2. Explorar Relações Interpessoais e a Relação Terapêutica
O trabalho com os relacionamentos interpessoais, incluindo a relação terapêutica, é central:
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Estimula-se o desenvolvimento da empatia;
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Ajuda-se o paciente a reconhecer o impacto do seu comportamento sobre os outros;
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Treina-se a assertividade, para que o paciente aprenda a comunicar de forma firme mas respeitosa;
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Em alguns casos, é benéfico envolver o/a parceiro/a em sessões de casal, promovendo limites claros e comunicação equilibrada entre ambos.
3. Desenvolver uma Autoimagem Mais Realista
Estes pacientes tendem a focar-se apenas nos seus pontos fortes, ignorando fragilidades. Têm dificuldade em aceitar que todos têm limitações humanas.
O terapeuta utiliza técnicas cognitivas para:
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Promover uma visão equilibrada de si mesmos;
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Identificar situações em que a arrogância teve consequências negativas reais;
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Ensinar o respeito por regras e normas sociais;
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Incentivar o reconhecimento e a aceitação das próprias vulnerabilidades.
4. Técnicas Vivenciais: A Criança Mimada Interior
Com recurso à imaginação guiada, o paciente revê experiências de infância onde foi tratado com indulgência ou privilégio desproporcional. O terapeuta entra como uma figura de "adulto saudável", confrontando, com empatia, a "criança arrogante" e ensinando-lhe o valor da reciprocidade e do respeito.
Mais tarde, o próprio paciente aprende a assumir esse papel interno – reeducando a sua parte infantil.
5. Trabalhar os Comportamentos Dentro da Terapia
É essencial estar atento ao comportamento arrogante dentro da própria relação terapêutica. O terapeuta confronta essas atitudes de forma empática, mas firme, sempre que o paciente:
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Tenta dominar a conversa;
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Mostra desrespeito ou desprezo;
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Expressa raiva injustificada ou tenta intimidar.
O terapeuta também reforça positivamente quando o paciente:
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Mostra vulnerabilidade com autenticidade;
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Demonstra empatia;
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Controla impulsos destrutivos;
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Trata os outros como iguais.
Por fim, desencoraja a valorização excessiva de status social, aparência ou conquistas materiais como critérios de julgamento pessoal.
Considerações Finais
O esquema de arrogo ou grandiosidade pode ser profundamente disfuncional, comprometendo relacionamentos íntimos, familiares e profissionais. Na sua base, pode estar um histórico de mimos excessivos ou, pelo contrário, de profunda carência emocional escondida sob um verniz de superioridade.
A psicoterapia, quando bem orientada, permite que o paciente:
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Desenvolva empatia;
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Aceite os limites da sua humanidade;
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Aprenda a relacionar-se com os outros de forma mais igualitária e saudável.
O poder pessoal não reside em dominar os outros, mas sim em conseguir conectar-se com empatia, respeito e equilíbrio.
Se reconhece este padrão em si ou em alguém próximo, o acompanhamento psicológico pode ser um passo importante para construir relações mais saudáveis e uma vida emocionalmente mais satisfatória.