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Esquema de Grandiosidade/Arrogo

18-08-2025

Quando o Sentimento de Superioridade Prejudica os Relacionamentos


Como se apresenta o Esquema de Grandiosidade/Arrogo?

Pessoas com o esquema de arrogo ou grandiosidade tendem a sentir-se especiais, superiores e acima dos demais. Consideram-se membros de uma espécie de "elite" e acreditam que têm direito a privilégios que os outros não têm. Não se veem sujeitas às regras normais de reciprocidade e respeito que regem as interações humanas saudáveis.

Geralmente, tentam controlar os outros para satisfazer as suas próprias necessidades, sem empatia ou preocupação com o impacto que isso possa ter. São frequentemente egocêntricos e exibem comportamentos dominadores, como:

  • Excesso de competitividade;

  • Esnobismo;

  • Afastamento emocional;

  • Imposição de opiniões;

  • Atitudes arrogantes e insensíveis;

  • Necessidade de afirmação de poder.

Estes indivíduos insistem em dizer, fazer ou obter o que querem – mesmo que isso prejudique os outros.

Tipos de Arrogância: Pura, Frágil e Dependente

Existem três formas principais deste esquema:

  1. Arrogância Pura: Pessoas que foram excessivamente mimadas ou protegidas na infância e que cresceram sem limites adequados. Não desenvolveram empatia, nem compreensão da importância de respeitar os direitos alheios. O tratamento centra-se no estabelecimento de limites.

  2. Arrogância Frágil (Narcisismo Compensatório): Nestes casos, a arrogância surge como uma defesa contra sentimentos profundos de defeito e carência emocional. Estas pessoas parecem confiantes, mas interiormente sentem-se vazias ou insuficientes. O tratamento aqui foca-se nos esquemas de defectividade e privação emocional.

  3. Arrogância Dependente: Um misto entre os esquemas de dependência e arrogância. O paciente acredita que os outros têm a obrigação de cuidar dele e atender às suas necessidades básicas (como alimentação, abrigo ou segurança), ficando frustrado ou revoltado quando isso não acontece. O terapeuta trabalha ambos os esquemas em simultâneo.

Objectivo do Tratamento

O objectivo principal é ajudar o paciente a internalizar o princípio da reciprocidade nas relações humanas. Ou seja:

  • Todas as pessoas têm valor igual, independentemente de estatuto, capacidades ou sucesso;

  • Ninguém tem direito a tratamento especial;

  • As interações devem basear-se no respeito mútuo, empatia e limites saudáveis.

Recupera-se aqui o princípio esquecido por alguns: que viver em sociedade implica dar e receber com equilíbrio – e que ninguém é "mais" do que os outros.

Estratégias Terapêuticas

1. Trabalhar a Motivação para a Mudança

Muitos pacientes com este esquema não procuram terapia por iniciativa própria. Frequentemente chegam ao consultório após:

  • Um divórcio;

  • A perda de um emprego;

  • Conflitos familiares ou com amigos;

  • Sentimentos de solidão ou vazio.

O terapeuta utiliza essas perdas e consequências negativas como ponto de partida para motivar a mudança, explicando de forma clara:

"Se não estiver disposto a abdicar do seu comportamento arrogante, as pessoas continuarão a afastar-se e a retaliar, e o sofrimento continuará."

Este reforço é constante e essencial para manter o paciente na terapia e envolvido no processo.

2. Explorar Relações Interpessoais e a Relação Terapêutica

O trabalho com os relacionamentos interpessoais, incluindo a relação terapêutica, é central:

  • Estimula-se o desenvolvimento da empatia;

  • Ajuda-se o paciente a reconhecer o impacto do seu comportamento sobre os outros;

  • Treina-se a assertividade, para que o paciente aprenda a comunicar de forma firme mas respeitosa;

  • Em alguns casos, é benéfico envolver o/a parceiro/a em sessões de casal, promovendo limites claros e comunicação equilibrada entre ambos.

3. Desenvolver uma Autoimagem Mais Realista

Estes pacientes tendem a focar-se apenas nos seus pontos fortes, ignorando fragilidades. Têm dificuldade em aceitar que todos têm limitações humanas.

O terapeuta utiliza técnicas cognitivas para:

  • Promover uma visão equilibrada de si mesmos;

  • Identificar situações em que a arrogância teve consequências negativas reais;

  • Ensinar o respeito por regras e normas sociais;

  • Incentivar o reconhecimento e a aceitação das próprias vulnerabilidades.

4. Técnicas Vivenciais: A Criança Mimada Interior

Com recurso à imaginação guiada, o paciente revê experiências de infância onde foi tratado com indulgência ou privilégio desproporcional. O terapeuta entra como uma figura de "adulto saudável", confrontando, com empatia, a "criança arrogante" e ensinando-lhe o valor da reciprocidade e do respeito.

Mais tarde, o próprio paciente aprende a assumir esse papel interno – reeducando a sua parte infantil.

5. Trabalhar os Comportamentos Dentro da Terapia

É essencial estar atento ao comportamento arrogante dentro da própria relação terapêutica. O terapeuta confronta essas atitudes de forma empática, mas firme, sempre que o paciente:

  • Tenta dominar a conversa;

  • Mostra desrespeito ou desprezo;

  • Expressa raiva injustificada ou tenta intimidar.

O terapeuta também reforça positivamente quando o paciente:

  • Mostra vulnerabilidade com autenticidade;

  • Demonstra empatia;

  • Controla impulsos destrutivos;

  • Trata os outros como iguais.

Por fim, desencoraja a valorização excessiva de status social, aparência ou conquistas materiais como critérios de julgamento pessoal.

Considerações Finais

O esquema de arrogo ou grandiosidade pode ser profundamente disfuncional, comprometendo relacionamentos íntimos, familiares e profissionais. Na sua base, pode estar um histórico de mimos excessivos ou, pelo contrário, de profunda carência emocional escondida sob um verniz de superioridade.

A psicoterapia, quando bem orientada, permite que o paciente:

  • Desenvolva empatia;

  • Aceite os limites da sua humanidade;

  • Aprenda a relacionar-se com os outros de forma mais igualitária e saudável.

O poder pessoal não reside em dominar os outros, mas sim em conseguir conectar-se com empatia, respeito e equilíbrio.

Se reconhece este padrão em si ou em alguém próximo, o acompanhamento psicológico pode ser um passo importante para construir relações mais saudáveis e uma vida emocionalmente mais satisfatória.

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