Esquema de Fracasso
Quando o Sucesso Parece Sempre Fora de Alcance
Como se apresenta o esquema de Fracasso?
Pessoas que desenvolvem o esquema de fracasso acreditam, de forma persistente, que falharam em comparação com os seus pares nas mais diversas áreas: carreira, educação, rendimento financeiro, estatuto social ou mesmo desporto. Sentem-se profundamente inadequadas – como se fossem menos inteligentes, menos capazes, menos talentosas. Consideram-se, no fundo, carentes de algo essencial para o sucesso.
Entre os comportamentos mais comuns nestes pacientes, destacam-se:
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Resignação ao fracasso: sabotam-se, apresentam baixo desempenho ou nem chegam a tentar;
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Evitação: adiam indefinidamente tarefas importantes ou simplesmente não as executam;
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Hipercompensação: assumem múltiplos compromissos ou trabalham excessivamente, tentando compensar a crença de que são menos capazes do que os outros.
Mesmo quando alcançam algum sucesso, continuam a sentir-se como impostores – como se estivessem prestes a ser "descobertos". O mundo exterior pode vê-los como competentes, mas no seu íntimo, vivem com a constante sensação de que estão prestes a falhar.
Fracasso vs. Outros Esquemas
É importante distinguir o esquema de fracasso de outros esquemas semelhantes:
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Padrões inflexíveis: aqui, a pessoa sente que não atinge as suas próprias expectativas ou as dos pais, mesmo que reconheça ter um desempenho igual ou superior à média.
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Dependência/Incompetência: está mais ligado à dificuldade em gerir a vida diária e tomar decisões simples, enquanto o esquema de fracasso está centrado em conquistas e realizações concretas.
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O fracasso também está frequentemente ligado ao esquema de defectividade: ao sentirem-se fracassadas, as pessoas passam a ver-se como fundamentalmente "defeituosas".
Além disso, o próprio medo do fracasso pode levar ao fracasso, criando um ciclo vicioso: a previsão negativa gera comportamentos que sabotam o sucesso, confirmando a crença inicial.
Objectivo do Tratamento
O tratamento visa ajudar o paciente a:
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Sentir-se e tornar-se tão bem-sucedido quanto os seus pares, dentro dos seus próprios limites e capacidades;
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Reavaliar realisticamente o seu sucesso atual, caso já tenha atingido um bom nível mas não o reconheça;
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Aceitar limitações pessoais reais, sem que isso afecte o seu valor pessoal.
Estratégias Terapêuticas
Avaliação da origem do Esquema
A abordagem terapêutica é ajustada à origem do esquema em cada paciente:
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Défices reais de capacidade: o trabalho centra-se no desenvolvimento de competências e na definição de objectivos realistas.
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Talento não explorado: pode haver falta de orientação ou foco em áreas erradas. Aqui, o terapeuta ajuda a redirecionar a energia para áreas com maior potencial.
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Transtornos coexistentes (como défice de atenção): devem ser identificados e tratados.
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Falta de autodisciplina/autocontrolo: nestes casos, é comum coexistir o esquema de autocontrolo/autodisciplina insuficientes, e o trabalho foca-se também neste aspeto.
Muitas vezes, o fracasso é consequência da presença de outros esquemas emocionais (como privação emocional ou defectividade) que levam à evitação emocional, interferindo negativamente com o desempenho. A dependência de substâncias, comportamentos compulsivos (como jogos, pornografia ou relações extraconjugais) ou o uso excessivo das redes sociais podem ser estratégias de fuga destes sentimentos negativos.
Por isso, é crucial compreender por que razão o paciente fracassou, para que o plano terapêutico seja verdadeiramente eficaz.
Intervenção Cognitiva
Quando existe um padrão de fracasso real, a estratégia cognitiva principal é reformular a origem da ineficácia percebida:
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Os pacientes são levados a perceber que não fracassaram por incapacidade inata, mas sim porque o próprio esquema os levou a agir contra o sucesso.
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São trabalhados diálogos internos entre o "eu fracassado" e o "eu saudável", permitindo tomar consciência da auto-sabotagem.
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É dada ênfase aos sucessos e competências – que muitas vezes são ignorados ou minimizados.
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Utilizam-se exercícios de evidência para reforçar a percepção dos pontos fortes e conquistas.
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São estabelecidos objectivos de longo prazo realistas, ajustando expectativas irreais, mudando de área ou redefinindo o grupo de comparação.
Intervenções Vivenciais
As técnicas de imaginação guiada ajudam a preparar mudanças comportamentais. O paciente é encorajado a reviver experiências passadas de fracasso e a:
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Expressar raiva por quem os desvalorizou – pais, irmãos, professores;
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Reconhecer injustiças e reatribuir o fracasso às críticas destrutivas recebidas;
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Trabalhar o medo do sucesso, que pode ter origem em mensagens subtis dos pais, que temiam que o filho os ultrapassasse ou os deixasse emocionalmente.
Esta expressão emocional é essencial para romper com a lealdade ao esquema. Quando a criança interior entende que não precisa mais acreditar nessas mensagens, abre-se espaço para um novo posicionamento interno.
O trabalho com modos emocionais também é útil: o terapeuta, e depois o próprio paciente, assume o papel de adulto saudável que orienta e apoia a "criança fracassada", tanto em memórias passadas como em desafios atuais.
Intervenção Comportamental
É, muitas vezes, a parte mais importante do tratamento. Por mais progresso que se faça nas dimensões emocional e cognitiva, se os comportamentos disfuncionais de evitação, resignação ou hipercompensação continuarem, o esquema será reforçado.
O terapeuta:
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Ajuda a substituir padrões de comportamento negativos por ações mais adaptativas;
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Estabelece objectivos concretos e tarefas graduais;
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Apoia o paciente a ultrapassar bloqueios – sejam de competência, aptidão, ansiedade ou autodisciplina;
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Utiliza ensaios comportamentais, imaginação ou dramatização para preparar o paciente para enfrentar desafios reais.
A Relação Terapêutica
O terapeuta tem também um papel modelador:
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Define expectativas realistas;
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Trabalha com consistência para atingir objectivos;
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Mantém um equilíbrio entre exigência e compaixão;
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Reconhece sucessos e persiste apesar dos fracassos.
Neste processo, o terapeuta serve como modelo de sucesso saudável, sendo essencial que mantenha uma atitude equilibrada perante o trabalho – não é o nível real de sucesso do terapeuta que importa, mas sim a forma como se relaciona com ele.
Além disso, o terapeuta proporciona reparação parental ao oferecer estrutura, apoio, valorização e limites claros – algo muitas vezes ausente na história de vida destes pacientes.
Considerações Finais
O esquema de fracasso não é apenas uma percepção negativa de si próprio – é um padrão enraizado que influencia escolhas, comportamentos e a forma como a pessoa se relaciona com o mundo. No entanto, com o acompanhamento certo, é possível reconstruir a autoimagem, redefinir metas e conquistar uma vivência mais autêntica e bem-sucedida.
Se sente que este esquema pode estar presente na sua vida, saiba que a psicoterapia oferece um caminho estruturado, empático e eficaz para a mudança.
Se desejar agendar uma consulta ou saber mais sobre este tipo de trabalho terapêutico, não hesite em entrar em contacto.