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Esquema de Fracasso

18-08-2025

Quando o Sucesso Parece Sempre Fora de Alcance


Como se apresenta o esquema de Fracasso?

Pessoas que desenvolvem o esquema de fracasso acreditam, de forma persistente, que falharam em comparação com os seus pares nas mais diversas áreas: carreira, educação, rendimento financeiro, estatuto social ou mesmo desporto. Sentem-se profundamente inadequadas – como se fossem menos inteligentes, menos capazes, menos talentosas. Consideram-se, no fundo, carentes de algo essencial para o sucesso.

Entre os comportamentos mais comuns nestes pacientes, destacam-se:

  • Resignação ao fracasso: sabotam-se, apresentam baixo desempenho ou nem chegam a tentar;

  • Evitação: adiam indefinidamente tarefas importantes ou simplesmente não as executam;

  • Hipercompensação: assumem múltiplos compromissos ou trabalham excessivamente, tentando compensar a crença de que são menos capazes do que os outros.

Mesmo quando alcançam algum sucesso, continuam a sentir-se como impostores – como se estivessem prestes a ser "descobertos". O mundo exterior pode vê-los como competentes, mas no seu íntimo, vivem com a constante sensação de que estão prestes a falhar.

Fracasso vs. Outros Esquemas

É importante distinguir o esquema de fracasso de outros esquemas semelhantes:

  • Padrões inflexíveis: aqui, a pessoa sente que não atinge as suas próprias expectativas ou as dos pais, mesmo que reconheça ter um desempenho igual ou superior à média.

  • Dependência/Incompetência: está mais ligado à dificuldade em gerir a vida diária e tomar decisões simples, enquanto o esquema de fracasso está centrado em conquistas e realizações concretas.

  • O fracasso também está frequentemente ligado ao esquema de defectividade: ao sentirem-se fracassadas, as pessoas passam a ver-se como fundamentalmente "defeituosas".

Além disso, o próprio medo do fracasso pode levar ao fracasso, criando um ciclo vicioso: a previsão negativa gera comportamentos que sabotam o sucesso, confirmando a crença inicial.

Objectivo do Tratamento

O tratamento visa ajudar o paciente a:

  1. Sentir-se e tornar-se tão bem-sucedido quanto os seus pares, dentro dos seus próprios limites e capacidades;

  2. Reavaliar realisticamente o seu sucesso atual, caso já tenha atingido um bom nível mas não o reconheça;

  3. Aceitar limitações pessoais reais, sem que isso afecte o seu valor pessoal.

Estratégias Terapêuticas


Avaliação da origem do Esquema

A abordagem terapêutica é ajustada à origem do esquema em cada paciente:

  • Défices reais de capacidade: o trabalho centra-se no desenvolvimento de competências e na definição de objectivos realistas.

  • Talento não explorado: pode haver falta de orientação ou foco em áreas erradas. Aqui, o terapeuta ajuda a redirecionar a energia para áreas com maior potencial.

  • Transtornos coexistentes (como défice de atenção): devem ser identificados e tratados.

  • Falta de autodisciplina/autocontrolo: nestes casos, é comum coexistir o esquema de autocontrolo/autodisciplina insuficientes, e o trabalho foca-se também neste aspeto.

Muitas vezes, o fracasso é consequência da presença de outros esquemas emocionais (como privação emocional ou defectividade) que levam à evitação emocional, interferindo negativamente com o desempenho. A dependência de substâncias, comportamentos compulsivos (como jogos, pornografia ou relações extraconjugais) ou o uso excessivo das redes sociais podem ser estratégias de fuga destes sentimentos negativos.

Por isso, é crucial compreender por que razão o paciente fracassou, para que o plano terapêutico seja verdadeiramente eficaz.

Intervenção Cognitiva

Quando existe um padrão de fracasso real, a estratégia cognitiva principal é reformular a origem da ineficácia percebida:

  • Os pacientes são levados a perceber que não fracassaram por incapacidade inata, mas sim porque o próprio esquema os levou a agir contra o sucesso.

  • São trabalhados diálogos internos entre o "eu fracassado" e o "eu saudável", permitindo tomar consciência da auto-sabotagem.

  • É dada ênfase aos sucessos e competências – que muitas vezes são ignorados ou minimizados.

  • Utilizam-se exercícios de evidência para reforçar a percepção dos pontos fortes e conquistas.

  • São estabelecidos objectivos de longo prazo realistas, ajustando expectativas irreais, mudando de área ou redefinindo o grupo de comparação.

Intervenções Vivenciais

As técnicas de imaginação guiada ajudam a preparar mudanças comportamentais. O paciente é encorajado a reviver experiências passadas de fracasso e a:

  • Expressar raiva por quem os desvalorizou – pais, irmãos, professores;

  • Reconhecer injustiças e reatribuir o fracasso às críticas destrutivas recebidas;

  • Trabalhar o medo do sucesso, que pode ter origem em mensagens subtis dos pais, que temiam que o filho os ultrapassasse ou os deixasse emocionalmente.

Esta expressão emocional é essencial para romper com a lealdade ao esquema. Quando a criança interior entende que não precisa mais acreditar nessas mensagens, abre-se espaço para um novo posicionamento interno.

O trabalho com modos emocionais também é útil: o terapeuta, e depois o próprio paciente, assume o papel de adulto saudável que orienta e apoia a "criança fracassada", tanto em memórias passadas como em desafios atuais.

Intervenção Comportamental

É, muitas vezes, a parte mais importante do tratamento. Por mais progresso que se faça nas dimensões emocional e cognitiva, se os comportamentos disfuncionais de evitação, resignação ou hipercompensação continuarem, o esquema será reforçado.

O terapeuta:

  • Ajuda a substituir padrões de comportamento negativos por ações mais adaptativas;

  • Estabelece objectivos concretos e tarefas graduais;

  • Apoia o paciente a ultrapassar bloqueios – sejam de competência, aptidão, ansiedade ou autodisciplina;

  • Utiliza ensaios comportamentais, imaginação ou dramatização para preparar o paciente para enfrentar desafios reais.

A Relação Terapêutica

O terapeuta tem também um papel modelador:

  • Define expectativas realistas;

  • Trabalha com consistência para atingir objectivos;

  • Mantém um equilíbrio entre exigência e compaixão;

  • Reconhece sucessos e persiste apesar dos fracassos.

Neste processo, o terapeuta serve como modelo de sucesso saudável, sendo essencial que mantenha uma atitude equilibrada perante o trabalho – não é o nível real de sucesso do terapeuta que importa, mas sim a forma como se relaciona com ele.

Além disso, o terapeuta proporciona reparação parental ao oferecer estrutura, apoio, valorização e limites claros – algo muitas vezes ausente na história de vida destes pacientes.

Considerações Finais

O esquema de fracasso não é apenas uma percepção negativa de si próprio – é um padrão enraizado que influencia escolhas, comportamentos e a forma como a pessoa se relaciona com o mundo. No entanto, com o acompanhamento certo, é possível reconstruir a autoimagem, redefinir metas e conquistar uma vivência mais autêntica e bem-sucedida.

Se sente que este esquema pode estar presente na sua vida, saiba que a psicoterapia oferece um caminho estruturado, empático e eficaz para a mudança.

Se desejar agendar uma consulta ou saber mais sobre este tipo de trabalho terapêutico, não hesite em entrar em contacto.

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