Esquema de Emaranhamento/Self Subdesenvolvido
Quando o "Nós" Apaga o "Eu"
Apresentação Típica do Problema
Quando chegam à terapia, os pacientes com o esquema de emaranhamento tendem a estar tão fundidos com uma pessoa próxima que é difícil, tanto para o próprio paciente como para a terapeuta, perceber onde termina a identidade do paciente e começa a da outra pessoa. Esta figura "emaranhada" é frequentemente um dos pais, mas pode também ser um parceiro amoroso, um irmão, um chefe ou mesmo um melhor amigo.
Estes pacientes sentem uma ligação e proximidade extremas com essa figura, o que prejudica o seu processo de individuação – ou seja, a capacidade de se tornarem um ser autónomo e desenvolverem-se socialmente de forma saudável.
Um exemplo concreto: um paciente, fusionado emocionalmente com a mãe, relatou que, ao tentar casar-se, ouviu dela a seguinte frase – "Eu sei o que é melhor para ti, filho. Afinal, estive contigo em todas essas histórias com outras mulheres." Esta partilha ilustra como a individualidade do paciente é invalidada em prol de uma ligação simbiótica.
Muitos destes pacientes acreditam que nem eles nem a figura parental conseguiriam sobreviver emocionalmente sem o apoio constante um do outro. Sentem-se como se fossem "uma só pessoa", e muitas vezes dizem conseguir ler os pensamentos da outra pessoa, ou intuir o que ela quer, sem necessidade de palavras.
Estabelecer limites com essa figura parental parece-lhes errado e gera sentimentos profundos de culpa. Partilham tudo com essa pessoa e esperam reciprocidade total. No entanto, essa fusão intensa também provoca sentimentos de sufoco e asfixia emocional.
O Self Subdesenvolvido
Esta é a outra face do esquema: a presença de um self subdesenvolvido – uma sensação de vazio e ausência de identidade própria. Estes pacientes parecem ter abdicado da sua individualidade para manterem a ligação com a figura parental. Sentem-se à deriva, sem saberem verdadeiramente quem são, sem terem desenvolvido preferências, talentos ou inclinações únicas. Em casos mais extremos, questionam até a sua própria existência.
Embora os conceitos de "emaranhamento" e "self subdesenvolvido" frequentemente coexistam, nem sempre estão ligados. Um paciente pode ter um self subdesenvolvido sem estar emaranhado, por exemplo, se tiver crescido sob subjugação parental, onde foi forçado a cumprir todas as exigências dos pais, sem espaço para se expressar.
Contudo, os pacientes que cresceram em relações de emaranhamento com figuras parentais quase sempre desenvolvem um self frágil e indefinido. As suas opiniões, interesses e escolhas não são verdadeiramente seus – são reflexos das figuras com quem se fundiram. Vivem em função do "astro" parental, como satélites em órbita.
Comportamentos Típicos
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Copiar comportamentos da figura parental;
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Pensar constantemente nela e manter contacto frequente;
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Suprimir pensamentos, sentimentos e comportamentos que sejam diferentes dos dela;
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Sentirem-se profundamente culpados quando tentam separar-se emocionalmente.
Em casos mais avançados, estas dinâmicas repetem-se noutras relações da vida adulta. Muitos destes pacientes escolhem parceiros dominantes, com quem voltam a recriar o mesmo padrão de emaranhamento – tornando-se satélites na órbita do outro.
Objectivo do Tratamento
O principal objectivo terapêutico é ajudar o paciente a reconectar-se com o seu self espontâneo e natural – com as suas verdadeiras preferências, opiniões, talentos e desejos.
Quando bem-sucedido, o tratamento leva o paciente a tornar-se o centro da sua própria vida, em vez de viver em função de outra pessoa. Deixa de estar fundido com a figura parental e ganha consciência tanto das semelhanças como das diferenças entre si e essa pessoa. Aprende a estabelecer limites saudáveis e desenvolve um sentido sólido da sua própria identidade.
Para os pacientes que, em resposta ao emaranhamento precoce, passaram a evitar a intimidade na vida adulta, o objectivo passa por construir relações afectivas mais equilibradas – nem demasiado distantes, nem novamente emaranhadas.
Estratégias de Tratamento
O trabalho terapêutico centra-se na vida actual do paciente, com recurso a técnicas cognitivas, comportamentais e vivenciais:
Estratégias Cognitivas
Estas técnicas ajudam o paciente a questionar a ideia de que é preferível manter-se fundido com a figura parental do que ter uma identidade própria. Explora-se, em conjunto, as vantagens e desvantagens de desenvolver um self separado.
O paciente é encorajado a identificar em que se assemelha e em que difere da figura parental. Importa reconhecer as semelhanças de forma saudável – não se pretende uma rejeição total que leve a uma postura de hipercompensação, onde o paciente tenta ser o oposto da figura parental.
É comum também promover diálogos internos, onde se contrasta o "lado emaranhado" com o "lado saudável" que deseja autonomia.
Estratégias Vivenciais
O paciente é convidado a visualizar, em imaginação, momentos da infância em que teve opiniões ou sentimentos diferentes dos dos pais, e a reencenar o que teria querido dizer ou fazer. Aprende a estabelecer limites mentais com essas figuras, recusando, por exemplo, partilhar tudo ou passar tempo excessivo com elas.
Inicialmente, o terapeuta pode assumir o papel do "adulto saudável" que apoia o "eu infantil emaranhado" nesse processo de separação.
Estratégias Comportamentais
Aqui, o foco está em descobrir e viver o verdadeiro self do paciente. Isso inclui:
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Listar experiências que geram prazer genuíno;
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Prestar atenção às sensações corporais como guias para preferências reais;
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Identificar músicas, livros, filmes, actividades favoritas;
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Nomear o que gostam ou não em pessoas próximas.
O paciente é encorajado a agir de acordo com as suas próprias vontades, mesmo quando estas são diferentes das da figura parental. Trabalha-se também a escolha de parceiros e amigos que não incentivem novas formas de emaranhamento.
A Relação Terapêutica
Um ponto essencial é a forma como a relação entre terapeuta e paciente é construída: com fronteiras adequadas. O vínculo não deve ser nem demasiado próximo (recriando o emaranhamento), nem excessivamente distante (gerando desconexão e desmotivação).
Se reconhece aspectos da sua própria história nestas descrições, saiba que não está sozinho(a). O trabalho psicoterapêutico oferece um caminho seguro e transformador para redescobrir quem é, com autenticidade e liberdade – para que a sua vida possa finalmente ser vivida por si e para si.
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