Esquema de Dependência/Incompetência
Apresentação Típica do Esquema
Indivíduos com este esquema tendem a comportar-se de forma infantil e desamparada. Sentem-se incapazes de cuidar de si próprios, como se a vida fosse demasiadamente pesada, e acreditam não estar preparados para enfrentar os desafios do dia-a-dia. Este esquema caracteriza-se por dois componentes principais: incompetência e dependência.
O primeiro componente, a incompetência, refere-se à falta de confiança nas próprias capacidades de tomar decisões e gerir situações comuns da vida. Estas pessoas costumam evitar tarefas novas, receiam assumir responsabilidades e sentem-se como "crianças perdidas" num mundo de adultos. Nos casos mais graves, podem mesmo acreditar que não conseguem cuidar de si em aspectos básicos, como alimentar-se, vestir-se, locomover-se ou gerir situações simples do quotidiano.
O segundo componente, a dependência, surge como consequência da perceção de incompetência. Por não se sentirem capazes de funcionar autonomamente, acreditam que precisam de alguém que cuide delas – seja um parceiro romântico, um familiar, um chefe ou até o próprio terapeuta. Vêm essas figuras como "pais substitutos" que orientam todos os seus passos. A ideia central é: "Sou incapaz, logo preciso depender dos outros."
Comportamentos Típicos
Entre os comportamentos mais comuns observam-se:
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Solicitar ajuda constantemente, mesmo para tarefas simples;
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Fazer perguntas repetitivas quando confrontados com algo novo;
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Dificuldade em tomar decisões sozinhos;
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Evitar viagens ou tarefas administrativas autónomas;
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Recusar promoções ou responsabilidades no trabalho;
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Evitar aprender novas competências por medo de falhar.
Um exemplo frequentemente simbólico é o medo de conduzir: o receio de se perderem, de o carro avariar ou de não saberem lidar com imprevistos representa a metáfora perfeita do esquema.
Importa salientar que estes pacientes raramente procuram ajuda com o objetivo de se tornarem mais independentes. O mais comum é procurarem "soluções mágicas" ou conselhos prontos de especialistas, sem disposição real para desenvolver autonomia. Muitas vezes, apresentam sintomas como ansiedade, fobias sociais ou depressão, sobretudo associados ao medo de perderem figuras das quais dependem – mesmo que estas figuras sejam abusivas ou controladoras.
A Hipercompensação
Numa minoria de casos, alguns indivíduos hipercompensam este esquema desenvolvendo um comportamento contradependente. Recusam qualquer ajuda externa, mesmo em situações que exigiriam apoio. Aparentam independência, mas fazem-no com grande ansiedade e medo de falhar. São como "crianças pseudo-adultas" que foram forçadas a crescer cedo demais.
Objectivos do Tratamento
O tratamento visa:
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Aumentar o sentido de competência pessoal;
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Reduzir a dependência disfuncional de terceiros;
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Incentivar a autonomia emocional e prática;
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Superar a evitação de tarefas e decisões.
O caminho terapêutico passa por ajudar o paciente a deixar de depender de forma não saudável dos outros e aprender a confiar nas suas próprias capacidades. A ideia é substituir a procura de respostas externas pela construção de soluções internas.
Estratégias Terapêuticas
Intervenção Cognitivo-Comportamental
Este é o eixo principal do tratamento. Procura-se alterar as crenças disfuncionais de que só se consegue funcionar com ajuda dos outros.
Técnicas incluem:
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Cartões de lembrete com frases de encorajamento;
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Diálogos internos entre a parte insegura e a parte saudável do eu;
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Soluções de problemas práticas;
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Questionamento de pensamentos negativos.
O terapeuta desafia a crença de que depender dos outros é saudável e mostra que essa dependência tem custos – como a não satisfação das necessidades de autonomia e autoexpressão.
É essencial criar motivação para que o paciente esteja disposto a tolerar a ansiedade associada à independência. Para isso, tarefas são graduadas por níveis de dificuldade e acompanhadas de estratégias de regulação emocional, como relaxamento, respiração consciente e mindfulness.
Técnicas Vivenciais
Embora menos centrais neste esquema, podem ser úteis. Podem incluir exercícios de imaginação guiada, nos quais o paciente confronta mentalmente figuras parentais sobreprotetoras, sobretudo se ainda mantém com elas uma relação que reforça a dependência.
Noutros exercícios, o paciente visualiza-se como uma criança assustada e entra na imagem como um "adulto saudável" que apoia e orienta essa criança. Este adulto interno afirma: "Eu cuido de ti. Sei tomar decisões. Sei resolver problemas." Este tipo de visualização ajuda a fortalecer a autoeficácia.
Intervenções Comportamentais
A componente comportamental é crucial para a superação do esquema. O paciente precisa de enfrentar as situações evitadas, a fim de acumular experiências de sucesso que desafiem o esquema.
O terapeuta propõe tarefas graduadas, desde as mais simples até às mais desafiantes, com prática diária fora das sessões. Ensaio comportamental pode ser feito nas sessões – como imaginar ou dramatizar a execução bem-sucedida de uma tarefa.
A utilização de estratégias para lidar com a ansiedade, como técnicas de relaxamento e autoinstruções racionais, ajuda o paciente a manter o compromisso com o processo.
Trabalho com a Família
Se os familiares ainda reforçam o esquema, sobretudo em contextos em que o paciente vive com eles, o envolvimento destes pode ser necessário. A família pode tanto fazer parte do problema como da solução. Quando o paciente não consegue estabelecer limites, a intervenção com familiares é considerada.
A Relação Terapêutica
É fundamental que o terapeuta não assuma o papel de cuidador ou decisor. A terapia deve promover a autonomia, encorajando o paciente a tomar decisões por si, oferecendo suporte apenas quando estritamente necessário. É igualmente importante reforçar positivamente cada passo de progresso.
Considerações Finais
O esquema de dependência/incompetência não se desfaz do dia para a noite. É preciso um processo cuidadoso, estruturado e baseado na colaboração entre terapeuta e paciente. Ao longo do tempo, o indivíduo aprende que errar faz parte do crescimento, que as suas decisões têm valor e que a verdadeira segurança vem de dentro – não da constante aprovação ou orientação de terceiros.
Se se identifica com estes padrões ou conhece alguém que possa beneficiar desta reflexão, a psicoterapia pode ser uma ferramenta fundamental na construção de uma vida mais autónoma, segura e plena.