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Esquema de Defectividade/Vergonha

17-08-2025

Um dos esquemas emocionais mais enraizados na autoimagem

Apresentação típica do esquema

O esquema de defectividade/vergonha caracteriza-se por uma crença profunda e persistente de que se é defeituoso, falhado, inferior, mau, inútil ou indigno de amor. Como consequência, a pessoa carrega uma vergonha crónica em relação a si própria.

Mas que aspetos sentem estas pessoas como "defeituosos"? Pode ser qualquer característica pessoal. Podem acreditar que são demasiado irritadiços, carentes, maus, feios, preguiçosos, burros, chatos, estranhos, dominadores, gordos, magros, altos, baixos ou fracos. Em alguns casos, têm desejos (sexuais ou agressivos) que consideram inaceitáveis. O problema não está necessariamente no que fazem, mas no que acreditam que são.

Têm um grande receio de se relacionar intimamente, pois vivem com o medo constante de que, mais cedo ou mais tarde, a sua "defectividade" venha a ser descoberta. Este medo aplica-se tanto ao mundo íntimo como ao mundo social. Sentem-se expostos, inseguros, como se carregassem um "defeito escondido" que será inevitavelmente revelado e julgado.

Comportamentos típicos

Um dos comportamentos mais comuns nas pessoas com este esquema é desvalorizar-se e permitir que os outros também o façam. Muitas vezes, toleram maus-tratos verbais ou críticas destrutivas, acreditando inconscientemente que merecem esse tratamento.

Tendem a ser hipersensíveis à crítica e à rejeição. As reações emocionais são intensas — podem ir da tristeza profunda à raiva, consoante a forma como lidam com o esquema (submissão, evitação ou compensação exagerada).

Muitos pacientes com este esquema sentem-se culpados pelos problemas nos seus relacionamentos. Costumam ser tímidos e fazem comparações constantes com os outros. Sentem-se desconfortáveis perto de pessoas que consideram "superiores" ou que acreditam que irão perceber o seu "defeito oculto". Esta insegurança pode também manifestar-se em ciúmes, competitividade e dificuldade em lidar com o sucesso dos outros, especialmente nas áreas em que se sentem mais frágeis.

É comum escolherem parceiros que os criticam, rejeitam ou desvalorizam — repetindo padrões familiares. Também podem tornar-se críticos com quem os ama. Como dizia Groucho Marx: "Não gostaria de pertencer a um clube que me aceitasse como sócio" — uma frase que expressa bem esta lógica emocional.

Em alguns casos, traços como arrogância, perfeccionismo extremo ou grandes exigências são formas de compensação exagerada, tentando esconder sentimentos profundos de inadequação.

Efeitos mais amplos

O medo de serem "expostos" leva muitas pessoas com este esquema a evitarem relações íntimas ou contextos sociais. Por isso, a perturbação de personalidade evitativa é muitas vezes uma manifestação direta deste esquema.

Este padrão pode também contribuir para o abuso de substâncias, distúrbios alimentares e outros comportamentos autodestrutivos.

Objetivos do tratamento

O principal objetivo terapêutico é aumentar a autoestima e ajudar a pessoa a reconhecer que merece amor, respeito e aceitação. O paciente aprende que os sentimentos de vergonha e inadequação são, muitas vezes, exagerados ou infundados.

Mesmo quando existem traços que possam ser vistos como "falhas", estes raramente são tão graves como parecem. E, sobretudo, não invalidam o valor da pessoa como ser humano.

Através do processo terapêutico, o paciente passa a sentir-se mais confortável consigo próprio, menos vulnerável e mais aberto às relações. Aprende a aceitar elogios, a não tolerar maus-tratos e a valorizar-se. Desenvolve uma percepção mais realista e humana de si e dos outros — e já não sente que precisa esconder partes de si para ser aceite.

Estratégias principais do tratamento


A relação terapêutica é central

A relação com o terapeuta é um espaço seguro onde o paciente pode ser ele próprio — inclusive com os aspetos que considera "defeituosos". A aceitação, empatia e respeito do terapeuta ajudam o paciente a desenvolver uma nova narrativa sobre si mesmo.

É importante que o terapeuta destaque as qualidades positivas do paciente, valorize os seus progressos e ofereça um espelho mais realista da sua identidade.

Trabalho cognitivo

A nível cognitivo, o foco está em desafiar e reformular as crenças de inadequação e vergonha. O paciente analisa as evidências a favor e contra o esquema e aprende a distinguir a voz crítica interior do seu "eu saudável".

Muitos dos aspetos que acreditam ser falhas são, na verdade, críticas internalizadas de figuras importantes na infância. Técnicas como a escrita de "cartões de reforço" com as qualidades do paciente são muito úteis para fortalecer a autoestima.

Trabalho emocional e vivencial

Através do trabalho com imagens mentais e diálogos imaginários, o paciente contacta as memórias de rejeição e crítica, expressa a raiva contida e começa a libertar-se da dor.

O terapeuta participa nestes exercícios como figura de apoio, protegendo e confortando a "criança interior". Progressivamente, o paciente assume este papel, desenvolvendo a capacidade de se autocuidar emocionalmente.

Trabalho comportamental

As estratégias comportamentais, sobretudo a exposição gradual a contextos sociais e íntimos, são fundamentais — especialmente nos casos em que a evitação é um mecanismo dominante.

Ao permitir-se partilhar mais de si com pessoas de confiança e ser aceite tal como é, o paciente começa a desconstruir a crença de que seria inevitavelmente rejeitado.

Além disso, trabalha-se também no desenvolvimento de competências sociais, melhoria da imagem corporal, estilo pessoal, entre outros aspetos práticos que reforçam a autoestima.

O paciente aprende ainda a lidar com a crítica de forma mais saudável:

  • Se a crítica é válida, aceita-a e trabalha para melhorar.

  • Se é injusta, defende o seu ponto de vista com assertividade, sem atacar ou se autodepreciar.

Nota final

Os pacientes com este esquema aprendem, ao longo do processo terapêutico, a reconhecer o seu valor, a desenvolver relações mais saudáveis e a deixar de viver sob o peso da vergonha. Deixam de compensar em excesso, de se esconder, ou de exigir a perfeição como forma de evitar rejeição.

O papel do terapeuta é oferecer um espaço de aceitação genuína, onde a pessoa possa descobrir, com tempo e apoio, que ser imperfeito não é um defeito, mas sim parte da condição humana.

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