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Esquema de Busca de Aprovação

18-08-2025

Quando Viver para os Outros Anula Quem Somos

Muitos dos pacientes que chegam à terapia relatam um desconforto persistente e difícil de nomear — uma sensação de vazio, de não saber ao certo quem são, ou de viver em função das expectativas alheias. Por vezes, esta experiência tem origem num esquema psicológico que denominamos "Busca de Aprovação/Busca de Reconhecimento". Neste artigo, abordamos o que está na base deste padrão, como se manifesta, e quais os caminhos possíveis para a mudança.

O que é a Busca de Aprovação/Busca de Reconhecimento?

Este esquema está presente em pessoas que atribuem uma importância excessiva à aprovação e ao reconhecimento por parte dos outros, em detrimento das suas necessidades emocionais centrais e da expressão do seu verdadeiro eu. Estas pessoas vivem muito focadas nas reacções externas e, como consequência, têm dificuldade em desenvolver um sentido de identidade sólido e autêntico.

Existem dois subtipos principais:

  • Busca de aprovação: o foco está em ser aceite, em agradar, em "encaixar" em todos os contextos.

  • Busca de reconhecimento: aqui, o objectivo é ser admirado — valoriza-se o status, a aparência, o dinheiro ou as conquistas como forma de obter validação externa.

Embora diferentes, ambos os subtipos dependem fortemente da reacção alheia para construir autoestima e um sentimento de valor pessoal.

Como se forma este esquema?

Em muitos casos, as raízes remontam à infância. Alice Miller, no seu livro Prisoners of Childhood, descreve como algumas crianças aprendem a conquistar reconhecimento como forma de agradar aos pais — muitas vezes pais bem-intencionados, mas que projectam nos filhos as suas próprias necessidades de validação. Em algumas famílias, mesmo com afeto e atenção, existe uma preocupação excessiva com as aparências ou com as realizações externas, levando a criança a desenvolver um falso self: uma versão moldada para agradar, mas que se distancia das suas emoções autênticas.

Este esquema pode estar associado a outros, como:

  • Privação emocional

  • Defectividade

  • Isolamento social

Por vezes, é uma forma de hipercompensar sentimentos de inadequação ou carência emocional.

Sinais comuns deste esquema

  • Necessidade constante de agradar e ser aceite.

  • Comportamentos subservientes ou submissos.

  • Ênfase excessiva na aparência, no sucesso, no dinheiro ou no status.

  • Tentativas de impressionar, muitas vezes subtis, como se gabar ou manipular conversas para obter elogios.

  • Dificuldade em agir de forma espontânea ou de expressar emoções verdadeiras.

É importante distinguir este esquema de outros padrões:

  • Padrões inflexíveis: centrados em valores internalizados, e não na validação externa.

  • Subjugação: motivada por medo (de punição ou abandono), não por desejo de aprovação.

  • Auto-sacrifício: movido por empatia e vontade de ajudar, não por busca de validação.

  • Arrogo/grandiosidade: procura de poder ou superioridade, diferente da necessidade de aceitação.

Crenças internas típicas

Pessoas com este esquema tendem a acreditar em frases como:

  • "Só serei aceite se agradar."

  • "Só tenho valor se for admirado."

  • "Preciso da validação dos outros para me sentir bem comigo."

A sua autoestima está, assim, totalmente condicionada à resposta alheia.

Impacto na vida

Ainda que este esquema seja comum em pessoas aparentemente bem-sucedidas, o seu custo emocional é elevado. Há uma tendência para suprimir sentimentos verdadeiros, para viver de forma artificial, e para sentir que algo está sempre em falta — por mais elogios ou conquistas que se alcancem.

Como disse uma paciente:

"Sempre pensei que, se tivesse de escolher, preferia parecer que tenho uma vida maravilhosa do que realmente ter uma."

A longo prazo, esta desconexão entre o self verdadeiro e o self performativo gera insatisfação, cansaço emocional e, muitas vezes, depressão ou ansiedade.

O caminho terapêutico: recuperar a autenticidade

O principal objetivo do tratamento é ajudar o paciente a reconectar-se com o seu verdadeiro eu — aquele que foi suprimido em nome da aceitação. Para isso, é necessário explorar e validar as emoções autênticas, descobrir inclinações naturais e, sobretudo, aprender a dar menos importância à aprovação externa.

Componentes do tratamento

O trabalho terapêutico integra quatro pilares:

1. Cognitivo

Ajuda o paciente a reconhecer os custos e limitações de viver em busca de aprovação. Por exemplo:

  • Vale a pena "vender a alma" por reconhecimento?

  • O que se perde ao viver para agradar?
    A ideia é que o paciente tome consciência de que a gratificação da aprovação é superficial e passageira, e que a verdadeira satisfação vem da autoexpressão e da autenticidade.

2. Vivencial

Através de exercícios de imaginação guiada e trabalho com modos (partes internas), o paciente revê experiências da infância, contacta com a sua "criança vulnerável" e expressa emoções reprimidas. Aprende a dar voz ao que realmente sentia e queria — e a reconhecer como o "modo busca de aprovação" tomou conta da sua vida.

3. Comportamental

O foco é passar da reflexão à acção:

  • Praticar comportamentos autênticos, mesmo que não gerem aprovação.

  • Tolerar o desconforto da desaprovação.

  • Experimentar dizer "não", expressar opiniões reais, ou deixar de tentar impressionar.
    Este é um processo desafiante, especialmente no início, mas essencial para a mudança.

4. Relação terapêutica

A própria relação com o terapeuta serve como espelho. É comum que o paciente tente agradar ou impressionar o terapeuta — e esses momentos são oportunidades valiosas para trabalhar o esquema em tempo real. O terapeuta encoraja a honestidade, a expressão genuína e o confronto empático.

Reflexão final

A busca de aprovação ou de reconhecimento não é, em si, patológica — todos gostamos de ser valorizados. Mas quando esse desejo se torna o motor da nossa identidade e das nossas escolhas, perdemos o contacto com quem realmente somos.

Recuperar a autenticidade é um caminho exigente, mas profundamente libertador. Não se trata de rejeitar os outros, mas de nos incluirmos na equação da nossa própria vida.

Se se identificou com este tema ou sente que a sua autoestima depende excessivamente do que os outros pensam de si, a terapia pode ajudá-lo(a) a reencontrar-se com o seu verdadeiro eu. O primeiro passo é olhar para si com curiosidade, coragem e compaixão.

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