Esquema de Autocontrolo/Autodisciplina Insuficientes
Quando a dificuldade em resistir ao impulso imediato compromete os objetivos a longo prazo
O que é o Esquema de Autocontrolo/Autodisciplina Insuficientes?
Pessoas com este esquema apresentam, geralmente, dificuldades em controlar emoções e impulsos (autocontrolo) e em tolerar frustração, tédio ou desconforto durante o tempo necessário para concluir tarefas e atingir objetivos (autodisciplina). Têm dificuldade em adiar gratificações imediatas em prol de metas mais duradouras, tanto na vida pessoal como profissional.
É comum que estes indivíduos tenham comportamentos como:
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Impulsividade e desorganização;
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Dificuldade em persistir em tarefas monótonas ou exigentes;
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Explosões emocionais (como crises de raiva ou histeria);
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Atrasos frequentes ou irresponsabilidade;
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Incapacidade de manter rotinas ou compromissos.
Apesar das consequências negativas desses comportamentos, muitas vezes a pessoa parece não aprender com a experiência ou não conseguir manter o esforço necessário para mudar.
O Esquema e os Vícios
Este esquema não se aplica, de forma direta, a comportamentos aditivos (como o consumo de álcool, drogas, jogo ou comida em excesso), embora estes possam coexistir. O vício, nestes casos, pode ser uma forma de lidar com outros esquemas mais profundos, como abandono, vazio emocional ou subjugação. O esquema de autocontrolo/autodisciplina, por outro lado, manifesta-se de forma mais generalizada, afectando múltiplas áreas da vida, e não apenas através de comportamentos de adição.
Origem do Esquema: Infância e Desenvolvimento
Todos nós nascemos com uma parte impulsiva — é natural nas crianças não saberem controlar os seus desejos ou emoções. Contudo, à medida que crescemos, aprendemos, através da família e da sociedade, a internalizar um "adulto saudável" que nos ajuda a controlar essa criança interior impulsiva, permitindo-nos funcionar de forma adaptativa.
Quando este processo falha, por razões como:
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Falta de disciplina ou orientação parental;
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Ambientes permissivos ou negligentes;
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Ou mesmo perturbações como o défice de atenção/hiperactividade (PHDA),
a criança pode não desenvolver as competências necessárias para lidar com a frustração ou adiar gratificações. Assim, na idade adulta, a impulsividade torna-se disfuncional.
Como os Pacientes Vivenciam este Esquema
Ao contrário de outros esquemas, este não é, geralmente, racionalizado com crenças conscientes como "tenho direito a agir por impulso". Pelo contrário, muitos pacientes sentem-se frustrados com o próprio comportamento e desejam ser mais controlados e disciplinados, mas simplesmente não conseguem manter o esforço.
É como se algo "tomasse conta" deles — uma força impulsiva que os leva a agir sem pensar nas consequências. Embora o modo impulsivo tenha também aspectos positivos (como espontaneidade e leveza), quando desregulado, prejudica a vida pessoal, profissional e relacional.
Objectivos da Intervenção Terapêutica
O principal objectivo do tratamento é ensinar o paciente a abdicar da gratificação imediata em nome de metas de longo prazo.
A terapia ajuda o paciente a compreender que:
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Ceder a impulsos pode trazer alívio ou prazer momentâneo,
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Mas os custos emocionais, sociais e profissionais a longo prazo são significativos.
A pessoa aprende a valorizar o esforço e a consistência como caminhos para realizações mais profundas e sustentáveis.
Estratégias Terapêuticas
1. Técnicas Cognitivo-Comportamentais
São frequentemente a base da intervenção. O terapeuta ensina o paciente a inserir o pensamento entre o impulso e a acção — ou seja, a parar, reflectir sobre as consequências e, só depois, agir.
Algumas práticas incluem:
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Estabelecer rotinas e horários;
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Executar tarefas monótonas por períodos curtos, aumentando gradualmente;
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Praticar técnicas de tolerância à frustração;
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Aplicar estratégias de autocontrolo emocional (como meditação, relaxamento, respiração, "time-out");
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Utilizar cartões-lembrete com razões para se controlar e estratégias eficazes;
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Recompensar comportamentos controlados com elogios, pausas ou pequenos presentes.
2. Ensaio Comportamental em Imagens Mentais
Durante as sessões, o paciente pratica cenários mentais onde responde de forma controlada a situações que normalmente provocariam impulsividade. Estas dramatizações reforçam a capacidade de escolha e ajudam a consolidar novos comportamentos.
3. Técnicas Vivenciais
O paciente imagina situações (passadas ou actuais) nas quais faltou autocontrolo ou autodisciplina. O terapeuta entra na cena como figura de "adulto saudável", orientando a "criança interior" para agir com mais equilíbrio. Com o tempo, o próprio paciente aprende a assumir esse papel internamente.
Quando o Esquema se Relaciona com Outros
Por vezes, a dificuldade de autocontrolo está associada a esquemas mais profundos, como:
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Subjugação: pacientes que, durante anos, suprimem raiva ou necessidades emocionais, podem acumular frustração e acabar por explodir de forma impulsiva.
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Vazio emocional ou abandono: a impulsividade pode surgir como uma forma de preencher um vazio interior.
Nestes casos, o trabalho terapêutico precisa de ir mais fundo, tratando também os esquemas nucleares subjacentes. Isso é especialmente importante em pacientes com perturbação de personalidade borderline, onde há frequentemente repressão emocional intensa seguida de crises impulsivas. O terapeuta promove empatia, expressão emocional adequada e realinhamento da percepção da realidade.
A Relação Terapêutica: Limites e Reestruturação
É fundamental que o terapeuta estabeleça limites claros e consistentes, especialmente quando a origem do esquema está em falta de estrutura ou disciplina na infância (por exemplo, crianças que ficavam sozinhas em casa ou cresceram em ambientes negligentes).
Com empatia e firmeza, o terapeuta:
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Define consequências para comportamentos desregulados (como atrasos, tarefas não cumpridas);
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Assume temporariamente o papel de "figura parental" reparadora;
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Reforça positivamente cada passo rumo ao autocontrolo.
Conclusão
O esquema de autocontrolo e autodisciplina insuficientes pode parecer, à superfície, apenas uma "falta de força de vontade". No entanto, trata-se de um padrão profundo e disfuncional que afecta diversas áreas da vida.
A psicoterapia ajuda o paciente a:
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Compreender a origem do seu comportamento;
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Desenvolver autoconsciência e capacidade de escolha;
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Estabelecer rotinas e metas;
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Substituir impulsividade por decisões conscientes;
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Alinhar os seus comportamentos com os seus valores e objectivos.
Aprender a esperar, tolerar o desconforto e persistir pode ser libertador. O controlo interno não é uma prisão — é uma ponte para uma vida mais satisfatória e alinhada com quem somos verdadeiramente.