2ª a 6ª feira, excepto feriados.

Esquema de Autocontrolo/Autodisciplina Insuficientes

18-08-2025

Quando a dificuldade em resistir ao impulso imediato compromete os objetivos a longo prazo

O que é o Esquema de Autocontrolo/Autodisciplina Insuficientes?

Pessoas com este esquema apresentam, geralmente, dificuldades em controlar emoções e impulsos (autocontrolo) e em tolerar frustração, tédio ou desconforto durante o tempo necessário para concluir tarefas e atingir objetivos (autodisciplina). Têm dificuldade em adiar gratificações imediatas em prol de metas mais duradouras, tanto na vida pessoal como profissional.

É comum que estes indivíduos tenham comportamentos como:

  • Impulsividade e desorganização;

  • Dificuldade em persistir em tarefas monótonas ou exigentes;

  • Explosões emocionais (como crises de raiva ou histeria);

  • Atrasos frequentes ou irresponsabilidade;

  • Incapacidade de manter rotinas ou compromissos.

Apesar das consequências negativas desses comportamentos, muitas vezes a pessoa parece não aprender com a experiência ou não conseguir manter o esforço necessário para mudar.

O Esquema e os Vícios

Este esquema não se aplica, de forma direta, a comportamentos aditivos (como o consumo de álcool, drogas, jogo ou comida em excesso), embora estes possam coexistir. O vício, nestes casos, pode ser uma forma de lidar com outros esquemas mais profundos, como abandono, vazio emocional ou subjugação. O esquema de autocontrolo/autodisciplina, por outro lado, manifesta-se de forma mais generalizada, afectando múltiplas áreas da vida, e não apenas através de comportamentos de adição.

Origem do Esquema: Infância e Desenvolvimento

Todos nós nascemos com uma parte impulsiva — é natural nas crianças não saberem controlar os seus desejos ou emoções. Contudo, à medida que crescemos, aprendemos, através da família e da sociedade, a internalizar um "adulto saudável" que nos ajuda a controlar essa criança interior impulsiva, permitindo-nos funcionar de forma adaptativa.

Quando este processo falha, por razões como:

  • Falta de disciplina ou orientação parental;

  • Ambientes permissivos ou negligentes;

  • Ou mesmo perturbações como o défice de atenção/hiperactividade (PHDA),

a criança pode não desenvolver as competências necessárias para lidar com a frustração ou adiar gratificações. Assim, na idade adulta, a impulsividade torna-se disfuncional.

Como os Pacientes Vivenciam este Esquema

Ao contrário de outros esquemas, este não é, geralmente, racionalizado com crenças conscientes como "tenho direito a agir por impulso". Pelo contrário, muitos pacientes sentem-se frustrados com o próprio comportamento e desejam ser mais controlados e disciplinados, mas simplesmente não conseguem manter o esforço.

É como se algo "tomasse conta" deles — uma força impulsiva que os leva a agir sem pensar nas consequências. Embora o modo impulsivo tenha também aspectos positivos (como espontaneidade e leveza), quando desregulado, prejudica a vida pessoal, profissional e relacional.

Objectivos da Intervenção Terapêutica

O principal objectivo do tratamento é ensinar o paciente a abdicar da gratificação imediata em nome de metas de longo prazo.

A terapia ajuda o paciente a compreender que:

  • Ceder a impulsos pode trazer alívio ou prazer momentâneo,

  • Mas os custos emocionais, sociais e profissionais a longo prazo são significativos.

A pessoa aprende a valorizar o esforço e a consistência como caminhos para realizações mais profundas e sustentáveis.

Estratégias Terapêuticas

1. Técnicas Cognitivo-Comportamentais

São frequentemente a base da intervenção. O terapeuta ensina o paciente a inserir o pensamento entre o impulso e a acção — ou seja, a parar, reflectir sobre as consequências e, só depois, agir.

Algumas práticas incluem:

  • Estabelecer rotinas e horários;

  • Executar tarefas monótonas por períodos curtos, aumentando gradualmente;

  • Praticar técnicas de tolerância à frustração;

  • Aplicar estratégias de autocontrolo emocional (como meditação, relaxamento, respiração, "time-out");

  • Utilizar cartões-lembrete com razões para se controlar e estratégias eficazes;

  • Recompensar comportamentos controlados com elogios, pausas ou pequenos presentes.

2. Ensaio Comportamental em Imagens Mentais

Durante as sessões, o paciente pratica cenários mentais onde responde de forma controlada a situações que normalmente provocariam impulsividade. Estas dramatizações reforçam a capacidade de escolha e ajudam a consolidar novos comportamentos.

3. Técnicas Vivenciais

O paciente imagina situações (passadas ou actuais) nas quais faltou autocontrolo ou autodisciplina. O terapeuta entra na cena como figura de "adulto saudável", orientando a "criança interior" para agir com mais equilíbrio. Com o tempo, o próprio paciente aprende a assumir esse papel internamente.

Quando o Esquema se Relaciona com Outros

Por vezes, a dificuldade de autocontrolo está associada a esquemas mais profundos, como:

  • Subjugação: pacientes que, durante anos, suprimem raiva ou necessidades emocionais, podem acumular frustração e acabar por explodir de forma impulsiva.

  • Vazio emocional ou abandono: a impulsividade pode surgir como uma forma de preencher um vazio interior.

Nestes casos, o trabalho terapêutico precisa de ir mais fundo, tratando também os esquemas nucleares subjacentes. Isso é especialmente importante em pacientes com perturbação de personalidade borderline, onde há frequentemente repressão emocional intensa seguida de crises impulsivas. O terapeuta promove empatia, expressão emocional adequada e realinhamento da percepção da realidade.

A Relação Terapêutica: Limites e Reestruturação

É fundamental que o terapeuta estabeleça limites claros e consistentes, especialmente quando a origem do esquema está em falta de estrutura ou disciplina na infância (por exemplo, crianças que ficavam sozinhas em casa ou cresceram em ambientes negligentes).

Com empatia e firmeza, o terapeuta:

  • Define consequências para comportamentos desregulados (como atrasos, tarefas não cumpridas);

  • Assume temporariamente o papel de "figura parental" reparadora;

  • Reforça positivamente cada passo rumo ao autocontrolo.

Conclusão

O esquema de autocontrolo e autodisciplina insuficientes pode parecer, à superfície, apenas uma "falta de força de vontade". No entanto, trata-se de um padrão profundo e disfuncional que afecta diversas áreas da vida.

A psicoterapia ajuda o paciente a:

  • Compreender a origem do seu comportamento;

  • Desenvolver autoconsciência e capacidade de escolha;

  • Estabelecer rotinas e metas;

  • Substituir impulsividade por decisões conscientes;

  • Alinhar os seus comportamentos com os seus valores e objectivos.

Aprender a esperar, tolerar o desconforto e persistir pode ser libertador. O controlo interno não é uma prisão — é uma ponte para uma vida mais satisfatória e alinhada com quem somos verdadeiramente.

Crie o seu site grátis!